Com um carreira que já contabiliza 41 filmes, Woody Allen não precisa mais provar nada a ninguém. O diretor sempre trabalha com os atores que quer, e acaba sempre dando um jeito de supreender nas abordagens dos temas que lhe são caros. "Igual a tudo na vida" não foge à regra, embora seja um dos filmes menos inspirados desta década em seu cinema. Não importa. Allen nunca deixa de ter relevância, mesmo quando passa por instantes de brilho mediano.
Quando dirigiu este "Anything else" (no original), ele já estava quase septuagenário, e muitos dizem que esse filme se trata de um "Noivo neurótico, noiva nervosa" revisitado. Não é uma afirmação totalmente sem sentido, já que "Igual a tudo na vida" guarda mesmo algumas semelhanças com a obra mais famosa do cineasta. Como no filme de 1977, aqui também há uma mulher que leva um homem à beira de loucura, e armadilhas que envenenam a relação a dois surgindo uma após a outra, sem que ambos se deem conta de que o fim da paixão está para chegar. Ela tem uma grande volubilidade, enquanto ele se esforça o quanto pode para entendê-la e satisfazê-la. Entretanto, sintetizar esse longa como uma cópia do outro é extremamente limitador. Afinal, "Igual a tudo na vida" também tem seus méritos próprios.
A começar por seu título em português, o filme é sincero em se demonstrar como uma visão de banalidades que acontecem a toda hora com qualquer pessoa. Foi um escolha feliz batizá-lo assim. Desde seu nome, a história não engana ninguém. Tem-se aqui a vida de Jerry Falk (Jason Biggs), um escritor que vive uma crise sem precedentes, e precisa fazer as pazes consigo mesmo. Só na sucinta descrição do protagnista, percebe-se que Allen apresentará algumas gags sobre um tema que já dissecara antes. Em "Desconstruindo Harry", ele era um escritor que comprava brigas com todos à sua volta pela sua visão provocadora de amigos e parentes. Em outros filmes ele também entrava por esse caminho. Por isso, além de igual a tudo na vida, o filme também é igual, mas não totalmente, a outras obras allenianas. Isso não chega a ser um demérito, pois Woody Allen consegue manter o interesse no espectador. É possívek assistir ao filme movido pela seguinte interrogação: como será que ele vai falardas neuroses individuais e coletivas dessa vez? Essa simples questão já funciona como uma boa justificativa para que se descubra o que ele tem a dizer.
Voltando à sinopse, um dos grandes problemas enfrentados por Jerry é sua relação intempestiva com Amanda (Christina Ricci), uma mulher tão linda quanto escorregadia. Ela nunca parece estar inteiramente ao alcance do rapaz, que se vê desconsolado com sua distância constantee progressiva. A paixão de Jeey por Amanda foi à primeira vista. Mas logo vem Allen com sua lente de aumento e maximiza as pequenas loucuras desse casal, despertando risadas que vêm acompanhadas de uma dose de identificação, algo que o cinema do diretor sempre consegue gerar, de uma maneira ou de outra. Ele abriu mão do papel de protagonista, preferindo escalar Jason Biggs para o posto. Mas não deixa de aparecer em cena, dessa vez como David Dobel, um escritor veterano que dá alguns conselhos insanos para o jovem e ainda inexperiente Jerry. A escolha de Biggs para o personagem é um tanto questionável, já que sua filomgrafia pregressa exibia pérolas de gosto duvidoso, como a série "American pie". Ainda assim, parece que Allen quis dar um voto de confiança para o ator, e até que não fez mal de todo. Como de costume, um ator que fica com o papel que seria do diretor incorpora seus trejeitos, e eleva à potência máxima a insegurança quanto às mulheres, o questionamento da vida em todos os ses aspectos, uma cota de mau humor que o leva a reclamar muito, entre outras características. Por isso, mais do que Jerry Falk, Jason Biggs tem a responsabilidade de encarnar o alter ego de Woody Allen. De um modo geral, ele consegue dar conta do recado, embora fique aquém do desempenho de outros atores que desempenharam essa mesma função, como Kenneth Branagh em "Celebridades". A comparação também se torna inevitável porque desta vez o próprio Allen também está em cena, o que evidencia alguma discrepância na atuação dos dois. Sim, porque o diretor também sabe atuar muito bem, e tem grande domínio do timing cômico nas mãos. A trama, como já se disse, é absolutamente simples, e acaba servindo para que ele debara sobre questões diárias com eficácia, mais uma vez. Ainda estão presentes no elencos ótimos coadjuvantes, como Danny DeVito, muito bem na pele do agente de Jerry, e Stockard Channing, que arrasa interpretando Paula. As tiradas geniais, grande trunfo de Allen, também aparecem com veemência. Na conversa de Jerry com um taxista, tem-se uma discussão interessante sobre a existência, uma preocupação constante do diretor. E o jazz, outra paixão declarada dele, novamente tem seu espaço, numa agradável sequência em que Diana Krall é citada por causa de uma apresentação sua num piano bar. "Igual a tudo na vida" é isso. Um filme que não é melhor nem pior que tantas outras comédias, apenas mais consistente e instigante que a visão de diretores menos experimentados e parcos de conteúdo. Com uma simples ideia, Allen construiu praticamente toda a sua filmografia, sem esgotar as possibilidades de diálogos sobre tudo o que mexe com a cabeça e o coração dos homens. Ao começo da exibição dos créditos finais, fica a sensação de que se teve mais uma conversa proveitosa com um velho conhecido que expõe sua visão contributiva sobre as pequenezas que têm grande peso.
22 de mar. de 2010
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