15 de jul. de 2010

Retrocessos e sutis variações de pensamento ou "Amor sem escalas"

A cada novo filme em que coloca seu rosto, George Clooney mostra mais uma de suas várias facetas. Esse aspecto camaleônico é, obviamente, indispensável ao bom ator, mas nem por isso prescinde de ser omitido. Seus personagens sempre carregam, seja qual for a abordagem do diretor em questão, uma aura de humanidade que permite a empatia quase imediata do espectador. O mesmo pode ser verificado em "Amor sem escalas", terceiro filme do talentoso Jason Reitman.

Não há como não comentar a título brasileiro infeliz dado ao filme, que o deixa com ares de comediazinha-romântica-digna-da-sessão-da-tarde. Seu título original, por mais difícil de traduzir que seja - "Up in the air", algo como "Para as alturas" -, merecia ser mais cautelosamente escolhido. Caso idêntico é o de "Eu, meu irmão e nossa namorada", uma tradução boboca para "Dan in real life". A despeito dessas nomenclaturas equivocadas, acompanhar a história de um homem que está mais nos ares do que em terra firme é uma delícia.
Para Ryan Bingham (Clooney), a vida só parece ter sentido se for para acumular milhagens aéreas. Enquanto todo mundo quer estar perto daqueles a quem ama, ele deseja chegar à marca de 10 milhões de milhas, por pura exibição. 0 destino do protagonista só muda quando ele conhece uma mulher de senso igualmente prático, que o tira do sério em dois tempos: ela é Alex Goran (Vera Farmiga). O trabalho de Ryan consiste em demitir funcionários de empresas, evitando que os chefes desses funcionários tenham de executar essa desagradável função. É por conta desse emprego que está em constante viagem, o que parece levá-lo a encarar a vida como um momento efêmero, mais do que qualquer um. Tudo no comportamento de Ryan parece exteriorizar uma visão de que está apenas a passeio na vida.
Além de ser o "algoz" dos empregados que recebem a demissão, ele dá palestras de autoajuda, nas quais afirma que as pessoas devem se liberar dos pesos que carregam na vida, das bagagens que só as atrapalham. Nas entrelinhas, Ryan prega uma filosofia de vida idêntica à sua, já que ele não demonstra qualquer preocupação com família ou amigos íntimos. O que sacode a vida desse homem é, como já se disse, conhecer Alex, mas também ver passar em sua vida a decidida Natalie (Anna Kendryck), uma jovem que acaba de ser contratada pela empresa em que ele trabalha, e qeu traz uma ideia revolucionária para seus patrões. Em vez de demitir pessoalmente os funcionários de que as companhias não mais necessitam, ela apresenta a possibilidade de fazê-lo por meio de uma videoconferência, na qual o funcionário é informado dos motivo de sua demissão.

Com isso, as constantes viagens de que Ryan tanto gostava para estar sempre longe da terra firme (e, por conseguinte, de uma vida dita normal) perderiam a razão de ser. Uma facada no peito de um homem com o orgulho ferido. Mas, antes que essa ideia seja, de fato, implementada, Ryan e Natalie deverão empreender as últimas viagens agendadas para as demissões. Uma vez juntos nessa, eles terão de se entender, mesmo que, a princípio, a contragosto. Ao leitor dessa crítica, não custa nada salientar que, em qualquer momento da história esses dois personagens vão cair de amores um pelo outro, no que se configuraria a clássica trama dos opostos que discutem, e depois se veem diante de uma atração irresistível um pelo outro. Isso tampouco acontece com Ryan e Alex, que, como dois adultos vacinados, encontram-se ocasionalmente em algumas de suas numerosas escalas e conexões.
"Amor sem escalas" é um filme que seduz por sua abordagem sutil de um tema bastante caro ao cinema e ao público, em geral. O diretor Jason Reitman trata de pessoas perdidas em um mundo cada vez mais isomorfista, em que, juntamente com os avançoes tecnológicos, as distâncias emocionais entre os indivíduos cresce progressivamente. A novidade trazida por Natalie confirma essa tese. Torna uma tarefa por si só já ingrata, em algo ainda mais frio e distante. Outro aspecto que chama a atenção no longa são suas paisagens, áridas como os corações de seus protagonistas, que parecem cansados de sonhar com pessoas, e preferem estar apegados a coisas. Nas viagens de Ryan e Natalie, eles passam por cidades e estados pouco badalados dos EUA, e evidenciam nelas a crise que já vinha assolando o país. Também por esse sentido, "Amor sem escalas" é um filme totalmente de seu tempo, já que inclui em seu roteiro a situação caótica da contemporaneidade, que repercute na economia, na cultura e até no âmbito esportivo, mais do que nunca, um paliativo para as mazelas a que somos submetidos dia a dia.
O filme também tem uam trilha sonora envolvente e leve que casa perfeitamente com a atmosfera de desalente impressa pelo cineasta. Reitman, aliás, vem contruindo uma carreira louvável no cinema. Depois de "Obrigado por fumar" (2006) e "Juno" (2007), ele chega ao seu terceiro filme mostrando maturidade e eficiência na condução de uma história que precisa realmente de cada um dos seus minutos de duração para se desenvolver. O cinema praticado pelo diretor não é feito de excessos, mas de uma fluidez e de uma direção de atores eficaz, que muito contribuem para tornar cada um dos filmes irresistíveis.
De alguma maneira, é possível aproximar os três protagonistas apresentados por Reitman até agora. Tanto Nick Naylor (Aaron Eckhart) quanto Juno McGuff (Ellen Page) e Ryan Binghan (Clooney) são pessoas em busca de um lugar no mundo e no coração de alguém, mesmo que mascarem esse desejo, a tal ponto de sequer se dar conta deles. Os três também acabam se atrapalhando na forma como levam suas vidas, sendo, como muitos indivíduos, movidos pelas circunstâncias que se lhes apresentam cotidianamente. Com isso, o subtexto da filmografia de Reitman assinala traços importantes da condição humana. E esses traços podem ser expressos do ponto de vista de um representante cínico da indústria tabagista, que precisa do cinismo para sutentar sua carreira, de uma adolescente que não hesita em abrir mão do próprio filho por estar convicta de que ele veio na hora errada, ou de um homem que quer tanto se livrar de suas "bagagens" emocionais que, em algum momento, se vê confrontado com a necessidade de criar laços com alguém e mantê-los. Retrocessos ou sutis variações de pensamento?

13 de jul. de 2010

As chagas da passagem do tempo expostas em "Longe dela"

A crueldade com que o tempo trata a maioria dos seres humanos é a grande temática por trás da estreia de Sarah Polley na direção em "Longe dela" (Away from her). Sua debutação do outro lado das câmeras é alvissareira, já que se utiliza de uma matéria-prima simples para gerar um efeito de forte comoção com a história de Grant (Gordon Pinsent) e Fiona (Julie Christie). Eles são um casal de longa data que se vê ameaçado pela doença dela. A distância, que é mencionada logo no título, é muito mais emocional do que física.

Polley vem de uma carreira de filmes pouco vistos, que não foram arrasa-quarteirões. Em seu currículo está o terror "Madrugada dos mortos" (2004), experiência de Zack Snyder na direção anterior a "300" (2006), além do sensível e subestimado "Minha vida sem mim" (2004), primeira colaboração entre a atriz e a diretora catalã Isabel Coixet, que se repetiria dois anos depois com "A vida secreta das palavras" (2006), obra igualmente bela. Se na carreira de atriz a maioria de suas escolhas foi acertada, como diretora Polley também faz bonito, apostando numa história forte e emocionante, mas sem traços de pieguice, uma armadilha evitável quando um realizador se propõe a abordar a temática do amor.
Em "Longe dela", o amor é a força motriz para as ações de Grant, que não mede esforços para deixar a vida mais palatável para Fiona, mesmo que isso lhe custe um afastamento involuntário da realidade na qual sua esposa passa a viver. Não há vilões de carne e osso para se intercalar entre o casal. O grande mal que assola os dois é o diagonóstico de mal de Alzheimer dado a Fiona. É a partir do surgimento desse mal que a relação de tantas décadas vivida por ambos começa a desmoronar. Um desmoronamento silencioso, lento e gradativo que vai cavando suas marcas e deixando resquícios praticamente intransponíveis entre os dois.
Muito da força do filme reside na direção segura de Polley, também autora do roteiro. A cineasta opta por uma condução minimalista, em que a economia dos diálogos funciona como um elemento de apoio para o retrato das angústias interiores dos personagens. Christie brilha permanentemente em cena, no papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz, perdido em favor de Marion Cotillard, vencedora por "Piaf - Um hino ao amor" (2007). A Academia tem uma queda notável por cinebiografias, o que é um dos motivos para ter dado a estatueta a Cotillard - merecida, diga-se de passagem. Talvez se a história de Fiona fosse inspirada em um caso real, suas chances de ser premiada aumentassem substancialmente. O Sindicato de Atores dos EUA, porém, garantiram-lhe uma láurea. Mas nem só de prêmios oficiais vivem os bons atores. Independente de qualquer vitória em competições, o fato é que a interpretação da atriz é irretocável.

Polley faz uma radiografia dolorida dos sintomas que vão acometendo Fiona, sendo a perda de memória recente o principal deles. Ela não consegue mais absorver novos acontecimentos como antes, ficando presa somente a um passado mais distante. Nesse sentido, surge mais uma distância entre ela e Grant: a distância temporal, metafórica, mas quase palpável quando se observam as conversas que eles passam a ter. Discretamente, Grant tenta fazer com que tudo pareça absolutamente normal para a esposa, num esforço comovente. Quando se vê sem alternativa, interna a mulher em uma clínica, disposto a lutar pela sua cura.
É quando o casamento passa por sua fase mais conturbada, já que, uma vez internada naquele lugar que se esforça para não parecer um ambiente de tratamento de doentes, Fiona se distancia de vez de Grant. E essa distância chega ao seu apogeu exatamente por causa de uma terceira pessoa. Diante de seus olhos apopléticos e de suas mãos impotentes, ele vê Fiona dedicar um sentimento intenso e admirável por um paciente que conhece na clínica. A amizade sincera entre Fiona e seu compannheiro de tratamento é uma bela relação de carinho. Ele está num estágio ainda mais avançado da doença, o que parece despertar (ou manter avivado) o instinto de proteção dela. Mesmo diante da constatação cruel de que o amor de Fiona por ele está agonizando, Grant se mantém firme em sua vontade de ajudar a esposa, visitando-a regularmente. Quando seu estado se agrava, Fiona tem de passar para o andar superior da clínica, para o qual o médico garantira a Grant que ela não passaria.
Em sua essência, "Longe dela" é um filme que retrata os efeitos devastadores da passagem do tempo. A conclusão a que se chega é inevitável. O tempo não se apieda de nada nem de ninguém, e lutar contra ele é levantar a bandeira de uma causa quase perdida. Sua força descomunal não escolhe a quem, e Fiona e Grant são exemplos claros dessa insdiscriminação. A cada passo dado pelo casal, ele demonstra que a inexorabilidade é uma de suas características mais marcantes. E, curiosamente, um filme que trata da perda progressiva da memória, como o é este, sobrevive na cabeça muito tempo depois da subida de seus créditos finais.

9 de jul. de 2010

"Queime depois de ler" e o cômico inverossímil

O ano de 2008 foi prodigalíssimo para os irmãos Ethan e Joel Coen. Foi quando chegaram ao Brasil, com um intervalo de apenas 9 meses, dois novos filmes de suas carreiras, que merecem ser vistos e comentados. O primeiro deles se tornou um xodó na filmografia dos diretores, e tem inúmeros motivos para tal: "Onde os fracos não têm vez". É a incursão dos Coen pelo universo dos faroestes, na qual criaram uma atmosfera sufocante de tensão e medo crescentes. E, de quebra, brindaram o público com a interpretação antológica de Javier Bardem, assustadoramente competente sob a pele de Anton Chigurh. Não à toa, o longa faturou dezenas de prêmios de vários sindicatos, além de ter papado nada menos que quatro estatuetas do Oscar.

Já em "Queime depois de ler", o caminho percorrido é bem diferente. Os irmãos cineastas repetem a parceria com alguns atores para construir uma trama um tanto mirabolante sobre pessoas que parecem ser o tempo todo guiadas pela idiotice completa. Encabeçando o elenco, estão os über astros George Clooney e Brad Pitt. O primeiro já havia estado antes em um filme dos Coen, o pouco visto "E aí, meu irmão, cadê você?" (2000), e parece bastante à vontade caminhando pelo mundo insólito e extravagante dos diretores. Pitt, por sua vez, debuta sob o comando dos irmãos, mas não faz por menos em matéria de talento. Ambos os atores, aliás, já provaram, há muito, que não são apenas belas embalagens, mas que têm um conteúdo interessante, principalmente no que diz respeito à arte de interpretar.


O filme é uma comédia daquelas que não se vê toda hora entrando em cartaz, porque consegue articular com meticulosidade uma história interessante, um elenco afiado e uma condução bem pensada. Nem tudo que aparece em "Queime depois de ler" é o óbvio ululante, é necessário que o espectador também coloque o cérebro para funcionar. Durante toda a narrativa, veremos ums série de situações estúpidas, e de imbróglios que beiram sempre o absurdo. Para que o leitor desta crítica tenha uma noção do que é a trama, se os quando Osborne Cox(John Malkovich), um agente da CIA, é demitido por seu comportamento inadequado (ele é um beberrão). Ressentido pelo fato, ele decide publicar um livro em que denuncia toda a sujeira de que sabe, a quale ele vinha testemunhando durante todos os anos em que foi funcionário do órgão. Mas a complicação começa mesmo quando sua mulher, Katie (Tilda Swinton, uma atriz que merece ser melhor descoberta), quer se separar dele, à sua revelia, e rouba os escritos para chantageá-lo no processo de divórcio. Ela quer apressar a separação, pois já tem um caso com Harry Pfarrer (Clooney), um perfeito imbecil que comete uma série de enganos ao longo do filme.
Só com esse trio em cena, "Queime depois de ler" já rende momentos hilariantes, mas o roteiro dos Coen ainda apresenta outros focos de ação. Trata-se da aparição de Chad Feldheimer (Pitt) e Linda Litzke (Frances McDormand, esposa de um dos diretores, e habituée de seus filmes), dois funcionários malucos de uma academia, que se interessam pelo poder de fogo das verdades contidas no projeto de livro de Cox, e decidem roubar os arquivos do projeto para extorquir um bom dinheiro dele. Com isso, Linda pretende custear suas cinco cirurgias plásticas, algo de suma importância para alguém tão fútil como ela. Está montada a teia que entrelaçará todos os personagens, que, de inteligentes, têm bem pouco ou nada, como o desenrolar do enredo permite concluir.
spoilers não forem um problema, tudo começa
Um dos grandes achados do filme é a maneira como o roteiro vai delineando a série de (des)encontros dos personagens. Os Coen sabem muito bem como manipular a história a um modo bem colocado. Para além disso, têm o mérito de colocar dois grandes astros do cinema contemporâneo em papéis inusuais em suas carreiras. Tanto Chad quando Harry são um poço de estupidez, cada um ao seu modo. Pitt acertou ao investir numa composição cheia de cacoetes, que levam ao cômico mesmo quando seu personagem está calado. Nas poucas vezes em que se encontram, revelam a boa química que existe entre seus intérpretes, talhada ao longo dos filmes da série "Onze homens e um segredo", de Steven Soderbergh. Em "Queime depois de ler", as situações são sempre bizarras, e fogem do óbvio com destreza admirável. O longa dialoga o tempo todo com o bestial, por conta do comportamento caricatural dos seus personagens. Com isso, os Coen aliam mordazes diálogos e reflexões a cenas divertidas, que irão surpreender o público em vários momentos e em várias instâncias.
A trama sofre algumas reviravoltas interessantes. Harry também acaba tendo uma caso com Linda, depois de começar a se corresponder com ela em um chat na internet. Ao partirem para uma possível relação no mundo real, a paranoia de Harry atrapalha seriamente o romance que eles estavam ensaiando. Não sem antes Linda revelar um pouco de suas fantasias não muito ortodoxas, por assim dizer. Por isso, vibra quando Harry lhe apresenta uma certa cadeira, que leverá os mais pudicos a reagirem ruborizados do outro lado da tela, e os mais despudorados a gargalharem (ou não) diante da cena. Contar mais seria estragar as surpresas que o filme reserva. Certamente, está entre os melhores da produção recente dos cineastas, por sua pegada divertida e inusitada. E vale destacar que nem tudo que surge no filme precisa ser entendido. Aliás, o cinema de Ethan e Joel Coen também é formado por alguns pontos de suspensão. E "Queime depois de ler" é mais um deles, como não poderia deixar de ser.

8 de jul. de 2010

Os mecanismos de entendimento do outro de "Aconteceu em Woodstock"

Como em seus filmes predecessores, em "Aconteceu em Woodstocck", Ang Lee lança um olhar extremamente carinhoso sobre pessoas que, involuntariamente ou não, assumem para si máscaras que não são aquelas que desejavam. Esse movimento de encobrir sua verdade realizado pelos personagens já havia sido demonstrado pelo diretor em "O segredo de Brokeback Mountain" (2005), em que os cowboys vividos por Heath Ledger e Jake Gylenhaal escolhiam para si a reclusão de um sentimento avassalador com o qual eles pouco sabiam lidar, expresso, ao longo de anos, somente em ocasiões fortuitas. E também em "Desejo e perigo" (2007), onde se verificava a transformação de uma jovem, papel de Wei Tang, em uma isca para atrair um importante político (Tony Leung Chiu-Wai) para uma cilada de militantes da oposição, sem que ela se desse conta. Por ambas as obras, Lee recebeu o Leão de Outro em Veneza. Merecidamente, diga-se de passagem.

Pois bem. No caso de "Aconteceu em Woodstock", a trasmutação, ou camuflagem, como queira, dá-se em Elliot Tilber (Demetri Martin), um jovem que está sempre pronto a ajudar seus pais no interior do estado, a ponto de abandonar seu emprego no coração financeiro dos EUA, a cidade de Nova York. Com isso, muda-se definitivamente para um lugar em que a pouca movimentação deixariam qualquer urbanoide entediado. É quando surge pela primeira vez em cena a impagável Imelda Stauton, no papel de Sonia, a mãe de Elliot, acompanhada do pai do jovem. Desde o início, a cada aparição Sonia enche a tela de risos incontidos, por sua personalidade avara ao extremo. Para evitar gastos, segundo ela, desnecessários com a adminitração do pequeno hotel de que são proprietários, Sonia chega ao cúmulo de reaproveitar toalhas e roupas de cama que já não deveriam, há muito, não estar mais em uso. A construção dessa personagem, com tintas hilariantes, é um dos elementos de comicidade inseridos por Lee na narrativa de "Aconteceu em Woodstock" (Taking Woodstock, no original).
Disposto a fazer com que o negócio da família prospere, e a evitar queo banco o confisque devido às inúmeras dívidas acumuladas, Elliot decide hospedar uma certa tribo de hippies que tiveram a licença de seu festival de música cassada numa cidade vizinha em seu hotel. Em pouco tempo, chegarão ao lugar pessoas de tipos estranhos, muito longa de uma normalidade esperada pelo senso comum. Na tela, desfilam figuras desvairadas, embebidas numa maneira de pensar que dispensa bens e qualquer ligação com uma vida material, e que, depois, virariam lendas e caricaturas de si mesmos para gerações que desaprenderam a contestar. Lee foca suas lentes em gente comum, que procura um lugar para expressar seus desejos de mudança, e pregar o caminho para uma vida alternativa, pautada na convivência harmoniosa com qualquer pessoa.

A partir da instalação desses hippies no hotel, começam os chiliques divertidíssimos de Sonia, que fica horrorizada com o comportamento despreocupado daqueles jovens, que não se importam de andar nus e demonstrar suas paixões de maneira, digamos, mais indecorosa. E "Aconteceu em Woodstock" se revela um misto de comédia com drama, sendo predominante o primeiro gênero. Uma amostra da versatilidade de Ang Lee, que soube manejar bem sua câmera para os conflitos internos de um protagonista, como já fizera tantas vezes, mas, dessa vez, sob um ponto de vista divertido. Tal habilidade é típica dos mestres que transitam livremente pelas mais variadas esferas de narrativas, sem que escorregue nem tanto para um aspecto, nem tanto para outro.
Voltando aos hippies, a grande ideia de Elliot é organizar o festival de música ali, na sua cidade, e arrecadar o máximo de dinheiro que puder hospedando os jovens em seu hotel e cobrando por todos os serviços que oferecer. Se a localidade já estava cheia desses alternativos, agora mesmo é que se torna "infestada" de representantes do chamado flower power, o que, a princípio, enlouquece Sonia. Mas só até ela ver os lucros gerados com a decisão de sediar o festival na cidade.
Diferentemente do que o espectator possa presumir, o filme não é sobre os grandes momentos de Woodstock, mas sobre os bastidores de um festival marcante para toda uma geração, que redefiniu o modo de pensar a cultura em todas as instâncias. O enredo trata de pessoas absolutamente comuns, em busca da afirmação de uma ideologia que querem estender para o mundo ao redor. Quem espera a reencarnação de mitos daquela época, como Janis Joplin e Jimi Hendrix, poderá ficar um pouco decepcionado. "Aconteceu em Woodstock" espia os bastidores de dias lendários, que estão presentes na memória afetiva de todos, até daqueles que não viveram as emoções do evento. É engraçado ver a maneira como Elliot e os pais se viram para acomdar tanta gente em um hotel tão pequeno, chegando ao cúmulo de dividir um quarto em dois. Sonia, vendo que para os jovens não há barreiras de privacidade, usa esse fato como justificativa para sua sovinice acentuada. Aliás, Stauton tem vários grandes momentos em cena com sua personagem.
Outros atores também demonstram talento e versatilidade, como Emile Hirsch, muito bem na pele de um ex-combatente paranoico depois do retorno da guerra, que oferecer explicações mirabolantes para os efeitos que aquele festival causará na mentalidade e na vida de todos os envolvidos. Talvez ele até merecesse mais tempo em cena, já que seus diálogos se dão basicamente com Elliot. Liev Schereiber, ainda pouco conhecido pelo grande público, também surpreende na pele de Vilma, uma espécie de travesti que aparece, ninguém sabe muito bem de onde, empenhado em ajudar Elliot a levar à frente a organização do festival.
De alguma maneira, aquela ocasião em que se prega um espírito libertário é a chave para a liberação de Elliot, que se sente à vontade para exprimir sua sexualidade que, desde o início da projeção, parecia ambígua, mas era, na verdade, conscientemente adormecida por respeito aos pais. Com o começo do festival, instaura-se uma ambiência multicolorida, em que todo tipo de manifestação de sentimentos é permitida e legitimada. A aura de ruptura com tudo e todos se evidencia nos fotogramas seguintes, salientando o ótimo trabalho executado por Eric Gautier, responsável por essa parte do filme. Já na abertura, surgem as flores do pequeno jardim em frente ao hotel dos pais de Elliot, e a tela vai se dividindo em várias, para dar conta de acompanhar todo o frenesi advindo do começo de uma nova vida para o protagonista.
Durante toda sua exibição, "Aconteceu em Woodstock" é cheio de achados impressionantes, entre os já citados, e outros, como a cena em que os pais de Elliot tomam alguma substância alucinógena e, sob o efeito dela, começam a dançar loucamente, sem freios. Sonia, a mãe, revela uma outra faceta, ainda mais risível, de seu comportamento. E outro grande mérito do cineasta taiwanês é transpor o público para toda aquela atmosfera excitante de contestação e contato com o mundo a partir de um outro olhar. Palavras que, a princípio, não têm relação entre si, como lisérgico, autoral, policromático e intenso, são igualmente eficientes para definir o percurso traçado por Lee para chegar ao resultado final de seu longa.

5 de jul. de 2010

"Conto da primavera" ou infinitas conjecturas de pessoas em busca de respostas

Na longa filmografia de Eric Rohmer, merece ser posto em relevo um aspecto crucial que atravessa a quase totalidade de sua obra. É praticamente impossível comentar a respeito de seus filmes ser assinalar o profundo apreço que o diretor tinha pela palavra. Um apreço que se traduz em longos e aparentemente intermináveis diálogos entre personagens que expõe suas fragilidades, expressam seus temores, verbalizam suas agonias e incertezas e explicitam o que se passa em seus interiores. Para espectadores mais afeitos a ação correndo em cada fotograma, um primeiro contato, ou até um segundo, com a obra rohmeriana pode ser extremamente tedioso.

Rohmer nunca se demonstrou interessado em agradar o espectador conduzindo suas tramas para um caminho mais fácil. Mesmo as sequências dotadas de certa ingenuidade encobriam um discurso muito mais aprofundado e sofisticado, de que inúmeros filmes são exemplo fiel. Veja-se o caso de "Conto da primavera". Filmado em 1990, ele é a abertura de mais uma das séries propostas pelo cineasta: os contos das quatro estações. Por questões subjetivas, ele não seguiu a ordem natural das estações do ano, preferindo filmar, em 1992, "Conto de inverno", em 1996, "Conto de verão", e em 1998, "Conto de outono". Em todos os longas, os aspectos clássicos que caracterizam cada estação são pano de fundo, ou pretexto, para se tratar de seres humanos em suas eternas buscas por respostas que, muitas vezes, podem estar dentro de si mesmos, sem que eles se deem conta, ou sem que percebam imediatamente.
A história que movimenta, por assim dizer, "Conto da primavera", é comuníssima: uma professora de filosofia chamada Jeanne (Anne Teyssèdre), jovem e atraente, não quer passar a noite sozinha. Por isso, aceita o convite de uma estudante para dormir em sua casa. Jeanne está sozinha porque seu noivo está viajando, e o apartamento foi alugado por ela para um primo enquanto o noivo não retorna. Ela e a estudante se conheceram em uma festa a que Jeanne foi. Uma vez tendo aceito o convite da menina, que se chama Natasha (Florence Darel) ela se instala no quarto de Igor (Hugues Quester), o pai da jovem. É então que a professora fica sabendo do sumiço do colar da menina, e das suspeita que ela tem de que a atual namorada de seu pai o tenha roubado.

Por meio dessa trama simples, Rohmer constrói mais um denso estudo de personagens e, em pouco tempo, o interesse do diretor em desvendar o "mistério" inicialmente apresentado vai sendo abandonado. Porque o foco realmente desejado é capturar as nuances de caráter de cada um que está sendo retratado na tela. Jeanne, por exemplo, é temperamental, e se inflama no discurso que apresenta para defender seu ponto de vista. Natasha é de uma firvolidade diáfana, que permite entrever um senso de justiça e decisão que não é comum à maioria das jovens de sua idade, seja há exatos vinte anos (tempo de vida do filme até aqui), seja em nossos dias. O cineasta emprega cada minuto da projeção para propor um mergulho intenso nos diálogos de pessoas que podem ser qualquer um de nós. A verborragia é, de um modo geral, cara aos franceses, e Rohmer, como bom francês, não poderia fugir à "regra".
"Conto da primavera", como os demais filmes da tetralogia, são impregnados de discussões filosóficas, que evocam autores que são reconhecidamente pilares do pensamento ocidental contemporâneo. Jeanne não abre mão deles em suas conversas com Natasha, quando a menina começa a tecer seus comentários nocivos à namorada do pai, que logo aparece em cena, e se revela como um homem interessante aos olhos da professora. Eles desenvolvem um delicado jogo de sedução, que não avança para muito além de olhares cruzados e diálogos sobre trivialidades. Assim como o enredo, que tem seu ápice no encontro entre os quatro personagens, momento no qual se espera pela resolução da dúvida que paira sobre Natasha. Um clímax aquém do desejado para quem costuma assistir às tramas mirabolantes de diretores experimentados na construção de atalhos para o pote de ouro das bilheterias.
Com um cinema livre das amarras de uma necessidade gritante de faturar altas cifras, Rohmer pode se debruçar com toda a calma sobre gestos feitos pelos personagens, sobre a repercussão daquilo que dizem em seus interlocutores, sobre as munúcias de argumentação em que cada um fundamenta suas observações sobre cada assunto abordado. O diretor consegue virar seus intérpretes pelo avesso, a fim de extrair preciosas elocubrações de cunho filosófico e existencialista. São razões que parecem bastante suficientes para encorajar ao menos uma parcela de espectadores a assistir ao filme, e concordar ou não com o olhar acima exposto.

2 de jul. de 2010

"A era do rádio", uma singular homenagem a certos áureos tempos

A década de 40 foi um período extremamente charmoso para o mundo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. E Woody Allen não se esquivou de apresentar seu retrato dessa época. O resultado pode ser conferido em "A era do rádio", filmado por ele em 1987. É mais um filme divertido e com marcas registradas do cineasta que fez de Nova York sua personagem mais famosa. No filme, ele prossegue com sua parceria com Mia Farrow, com quem havia rodado sucessos como "Zelig" (1983) e "A rosa púrpura do Cairo" (1985). E, mais uma vez, deixa de acumular a função de ator, preferindo a direção e a narração da história que tem a contar dessa vez.

O filme se centra em uma série de episódios acerca de uma família novaiorquina que tem seu cotidiano marcado pelo rádio, a invenção mais revolucionária entre os meios de comunicação daquele tempo. Toda a ação do longa é voltada para uma aura de idealização que toca o espectador desde as primeiras cenas. Não há protagonistas absolutos, mas o pequeno Joe Needleman, um menino de apenas 10 anos de idade, é um dos personagens mais cruciais da narrativa. Interpretado por Seth Green, que depois viria a fazer muitos outros filmes, como "Os queridinhos da América" (2001) e "Uma saída de mestre" (2003), ele é fascinado pelas histórias incríveis que escuta nos noticiários do rádio, e também em programas sensacionalistas típicos daquela fase e que, ainda hoje são uma praga difícil de ser exterminada. Ele também se encanta com o que hove sobre belas mulheres, que acabam povoando seus sonhos de garoto em fase pré-adolescente.
Joe é apenas um dos tipos de uma vasta galeria oferecida por Allen, que traz uma família com membros de toda natureza. Atualmente, empregá-los é cair no lugar-comum, mas Allen os utilizou primeiramente com grande originalidade e frescor. São muitos os destques no elenco de veteranos, como a tia insaciável e solteirona vivida por Dianne Wiest, que arranca muitas risadas com suas aventuras amorosas sempre frustradas. E também o pai austero e convincentemento censor interpretado por Michael Tucker, que mantém um caso com uma charmosa vendedora doces, Sally (Farrow). Com esse e outros personagens cativantes, "A era do rádio", evoca um pouco dos filmes de Fellini, que sabia tocar em temas como o crescimento de um indivíduo e a memória como poucos faziam.

A direção afiada de Woody Allen contribui para que o filme figure entre os seus melhores, mesmo que não apresente muitas novidades entre o que ele filmara antes ou filmaria posteriormente. É uma delícia acompanhar a desventuras de Joe e de seu clã, que são narradas com sarcasmo pelo próprio diretor, exercitando novamente sua veia bem-humorada. Ao longo dos enxutos 85 minutos de projeção, desfilam pela tela personagens memoráveis como Biff Baxter (Jeff Daniels) - curiosamente, seu personagem tem o mesmo sobrenome do que ele viveu em "A rosa púrpura do Cairo" e o cantor de rádio de William H. Macy, que surge em uma das noites de show do clube onde Sally trabalha.
Resumindo, o estilo inconfundível de Woody Allen, que tem talento de sobra para conduzir tramas temperadas com o melhor da ironia e da inteligência é o maior atrativo de "A era do rádio", que se encaixa entre os grandes sucessos da década de 80 na carreira do diretor, e que trazuma bela homenagem a um tempo que já não existe mais, cheio de glamour e emoção. Por meio de seus personagens cativantes e adoráveis, emerge uma nostalgia apaixonante, que enreda o público numa trama doce e inofensiva. Hoje, sabe-se de antemão que carreiras de sucesso como as mostradas no filme conheceriam a decadência, mas o que se guarda na memória são apenas os áureos tempos.

1 de jul. de 2010

O cruzamento de trajetórias sob a égide dos sentimentos em "Manual do amor"

De que maneira é possível encontrar uma lógica no amor? Até hoje, e desde tempos imemoriais, existem tentativas infinitas de rotular, classificar e analisar o mais universal de todos os sentimentos. A ânsia de amar, e toda a agonia derivada do começo de um enlace amoroso são a tônica de "Manual do amor", longa de Giovanni Veronesi que, como o próprio título denuncia, calca-se na busca por um retrato pontual do que representa o amor para um indivíduo, e das fases que ele percorre.

A narrativa do filme é estrutura em episódios, num total de quatro. Cada um deles compreende uma das fases do amor, segundo o roteiro escrito por Ugo Chiti e pelo próprio Veronesi: a paixão, a crise, a traição e o abandono. Trata-se de um estruturação convencional, quase didática, o que reforça a ideia apresentada no título, uma tradução literal do original italiano (Manuale d'amore). A conclusão a que se chega, logo de imediato, é a de que existe uma lógica para os mistérios do coração. E, apesar dos títulos de cada episódio serem tristes, tudo se encaminha para a comédia, evidência notada desde o primeiro fotograma.
O primeiro episódio traz um casal em fase de encantamento. Mas, antes disso, revela as constantes tentativas do rapaz, vivido por Silvio Muccino, conquistar a mulher que o tirou de seu estado normal, a bela Giulia (Jasmine Trinca, de "O quarto do filho"). Inicialmente difícil, o que atiça o desejo de Tommaso (Muccino), ela acaba sucumbindo ao sentimento, e eles se deixam levar por uma paixão avassaladora. Nesse
primeiro momento, "Manual do amor" serva aosc casais que se conhecem há pouco tempo, que estão namorando há poucos meses, e que ainda tem, portanto, extrema tolerância a tudo o que o parceiro diz ou faz. A essa altura, qualquer pretexto serve para enaltecer as qualidades do outro, e muitos chegam a se comportar como verdadeiros obsessivos, respirando permanentemente a pessoa amada. É exatamente como Tommaso e Giulia se comportam, depois que estão completamente enlaçados um pelo outro. O casal navega pelas águas doces do idílio amoroso. Qualquer acusação de que o diretor apresente uma visão edulcorada da paixão é absolutamente legítima. Mas porque seria ela negativa?

O segundo fragmento do filme trata sobre a crise, um momento da relação da qual todos fogem. Protagonizado por Barbara (Margherita Buy) e Marco (Sergio Rubini), esse trecho do longa trafega pelo terreno arenoso das incongruências entre o casal, que vão deflagrando os desentendimentos, e também os silêncios. O roteiro é eficaz ao captar as angústias de cada um dos parceiros, mostrando que o caminho que leva á harmonia é bastante acidentado, difícil de percorrer. Entretanto, a atmosfera do filme é sempre de humor, o que acaba gerando ainda mais empatia no público do que se se tratasse de um drama pesado. Apostar no riso, como fez o diretor, e tocar em feridas abertas de modo que se desmontem as convicções que o senso comum tem sobre determinado assunto. As comédias são pródigas nessa arte, e o texto sagaz da dupla de roteiristas consegue dar conta dessa tessitura marcada pelas sutilezas. A crise atravessada por Barbara e Marco não dá avisos de que vai chegar, apenas se instala e obriga os dois a contorná-la, ou a deixarem-se vencer por ela.
O episódio que retrata a traição é um dos mais divertidos de todo o filme. Ele conta a história de Ornella (Luciana Littizzetto), uma guarda de trânsito que acabou de ser traída, o que despertou nela um forte desejo de ir à forra contra os homens que passam por sua vida. A partir da entrada dessa personagemem cena, Veronesi já começa a delinear o entrecruzamento das tramas que, a princípio, pareciam isoladas. Ornella acaba sendo um dos elementos de união entre os casais e os solteiros da história, como quando ela multa um dos personagens masculinos por puro exercício de vingança. Seu ódio aos homens é tão intenso que chega a ser risível.
Por fim aparece Goffredo (Carlo Verdone), um homem de meia-idade que foi abandonado há pouco tempo, e que procura desesperadamente por uma forma de encontrar uma nova companhia. Ele é um pediatra solitário, que reccore a um livo de auto-ajuda intitulado, justamente, manual do amor. Suas cenas também são bastante divertidas, uma forma que o cineasta encontrou de explorar a verver cômica desse ator e diretor, conhecido por filmes que, em sua maioria, não entraram em circuito comercial no Brasil, como "Ma che colpa abbiamo noi", "L'amore è eterno finché dura" e "Il mio miglior nemico". Como na hora em que ele tem de se esconder depois de ir ao quarto de sua secretária, ficando pendurado na janela, prestes a ser descoberto.
Até o fim da projeção, o espectador presencia um apanhado de clichês relativos ao amor, do qual a maioria dos filmes não consegue escapar, mas que aqui aparecem atrelados a um certo teor crítico que consegue elevar a obra para além do descartável. De inúmeras formas, "Manual do amor" parafraseia uma série de frases célebres ditas ou cantadas por quem buscou entender os meandros desse sentimento que move as ações de homens e mulheres. Como aquela famosa constatação de Tom Jobim, presente na letra da canção "Wave": "É impossível ser feliz sozinho", para solitários como Ornella e Gofreddo, ou um trecho do "Soneto de fidelidade" de Vinicius de Moraes: "Mas que seja infinito enquanto dure", para dizer a Barbara e Marco.