23 de jul. de 2009

"A fronteira da alvorada", um ensaio sobre a beleza

Existem temas que são universais. O amor, o relacionamento entre pai e filho, as consequências de uma escolha, entre outros. Como uma arte universal, o cinema sempre se encarrega de abordar esse assuntos. Nenhum deles é mais abordado, entretanto, como o amor. O sentimento assume diversas facetas, e o verbo amar é conjugado em todas as pessoas. Assim como se vê em "A fronteira da alvorada", trabalho mais recente do cineasta francês Phillipe Garrel, em atividade desde 1964.
Nesse novo filme, ele volta a dirigir seu filho, o talentoso Louis Garrel, que dá vida a François, um fotógrafo que é contratado para fazer imagens de Carole (Laura Smet), uma atriz que passa a maior parte do tempo sozinha em casa por causa do trabalho do seu marido, que está sempre viajando. Ele também trabalha com cinema, mas na produção.
A chegada de François à vida de Carole irá modificá-los para sempre. Quase como se fosse inevitável, eles dão início a um romance. François se deixa levar pelo fascínio que a imagem de exerce sobre ele. Logo nos primeiros cliques, ele nota como o semblante da atriz transpira desalento e abandono. A bela figura de Laura Smet é, de fato, perturbadora, como sua beleza. O espectador pode se impressionar, como François.
Mas surge logo aqui e ali um problema no romance entre o fotógrafo e a atriz. Um deles é o ciúme excessivo de Carole. Outro se torna fatal para a relação. Um dia, o marido de Carole - que é mais mencionado que visto - chega mais cedo em casa, obrigando François a fugir. Ofendido com a situação, François para de se encontrar com Carole, fazendo com que ela fique desarvorada.
Carole passa a correr atrás de François, mas ele permanece irredutível. Essa indiferença de François faz com que ela se desepere cada vez mais e, logo, ela vai parar em um manicômio. Pouco tempo depois, Carole se suicida, num dos momentos mais trágicos do filme.
É a partir de então que a narrativa fica mais ancorada no imaginário, já que François, um ano depois da morte de Carole, começa a ver seu fantasma no espelho. A imagem da atriz o atormenta, e ela lhe pede que ele vá fazer companhia a ela no mundo dos mortos. Ele está em um novo relacionamento, mas essa figura o aturde.
Interessante é observar como Phillipe Garrel não tem pudores em desconstruir imagens e se firmar no terreno do realismo fantástico para contar sua história. Há uma sequência em que o diretor lança mão, ainda mais, desse recurso, ao filmar uma espécie de delírio de François com Carole.
Uma das melhores passagens do filme é um diálogo entre o casal, no qual Carole apresenta a François a teoria do para-brisas. Segundo essa teoria, os amantes são como um para-brisas: quando um se aproxima, o outro se afasta e, quando o outro se achega, é o que se aproximou que passa a se distanciar. Aí está uma maneira alegórica de se falar da eterna incongruência que surge ao longo de um relacionamento amoroso.
A maneira como a história dos dois amantes caminha para o fim resulta em quase poesia. Visualmente, inclusive, "A fronteira da alvorada" é deslumbrante. A fotografia em preto e branco, quase uma obsessão do diretor, se repete aqui, gerando imagens quase icônicas. O filme pode ser resumido como um ensaio sobre a beleza, capaz de levar a atos absolutamente impensados.

Um comentário:

Anônimo disse...

ainda não tinha visto esse seu blog, ele tá bem legal!