7 de ago. de 2009

A jornada de autodescoberta de "Um beijo roubado"

"Um beijo roubado" é mais um exemplar do belo cinema de Wong Kar-Wai. É daqueles filmes cuja personalidade do diretor se impõe à obra. O que, no caso do chinês, não é prejudicial.

A narrativa desse que é seu primeiro filme rodado em inglês está centrada na figura de Elizabeth Norah Jones, uma grata surpresa), mulher que acaba de encerrar um relacionamento amoroso e, por isso, está com o coração partido. Ela encontra um pouco de consolo na companhia transitória de Jeremy (Jude Law, charmoso como sempre), que também é um sujeito desprovido de um par. Jeremy é dono de um café, e chama a atenção de Elizabeth o fato de uma torta permanecer inteira no balcão. A torta é feita com mirtilo, a frutinha exótica presente no título original do filme. Ela estranha a situação, e Jeremy lhe explica que a torta está ali nao porque seja ruim, mas porque está à espera de paladares mais apurados, que saibam apreciá-la.

Daí se pode extrair uma espécie de analogia com os seres humanos. Como a torta, estamos na vitrine (a própria vida) aguardando que o melhor paladar venha ao nosso encontro e nos aprecie a contento. Com isso, acabamos por não atentar para quem já está muito próximo de nós e poderia ser a melhor pessoa para nos relacionarmos. E seguimos nossos caminhos solitários e exigentes.

Como Elizabeth e Jeremy, os demais tipos presentes no filme são o retrato do abandono e da solidão crônica. Papéis que são defendidos com veemência notável por Rachel Weisz, uma mulher que foge da violência do ex-marido, vivido por David Strathairn. E por Natalie Portman, que personifica uma jovem esquecida pelo pai que duvida de tudo e de todos.

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