O filme começa com a imagem de uma casa vista de frente. Por ali passam algumas pessoas, que levam suas vidas dentro da normalidade. Até que vemos a imagem sendo rebobinada, e percebemos que se trata de um vídeo que estava sendo assistido por Georges e Anne, o qual mostra o cotidiano deles flagrado detalhadamente. Nota-se a expressão pasma do casal, que traz com ela uma certeza: alguém os está espionando.
Georges apresenta um programa de crítica literária na televisão, e Anne é uma editora de livros. Os dois têm apenas um filho, o adolescente Pierrot. A rotina deles vem sendo abalada pelo envio constante de fitas de vídeo contendo imagens do dia a dia dos três. Junto com esses vídeos, vêm também desenhos bastante estranhos, aparentemente sem significado. O fato desequilibra o relacionamento dos dois, já que Anne começa a acreditar que Georges está escondendo algo dela. O apresentador, por sua vez, suspeita de um autor para as ameaças: seu irmão de criação, que ele não vê há muito tempo, e com quem viveu um episódio traumático na infância que, até antes das fitas, Georges acreditava estar superado.
Daí para e frente, vemos vir à tona sentimentos como culpa e paranoia, numa narrativa um tanto elíptica, que faz o espectador entender e concluir algumas situações por conta própria. Contar mais sobre o desenrolar dos fatos é entregar de bandeja um filme que precisa ser saboreado com calma, e que, seguramente, deve ser visto duas vezes.
Haneke não está preocupado em dar respostas ao espectador, mas em levantar uma série de questões para debate. Não apresenta uma única verdade, mas leva a uma série de conjecturas, que podem ou não apontar para uma conclusão.
Seu final abrupto é a coroação de um trabalho que nunca segue pelo caminho mais fácil, e revolve feridas que muitas vezes as pessoas lutam para manter escondidas, encobertas pelo silêncio.
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