14 de jul. de 2009

"Noivo neurótico, noiva nervosa" ou as armadilhas de uma relação

Falar a respeito de um filme tão aclamado e incrível como é "Noivo neurótico, noiva nervosa" é entrar num terreno de areia movediça. Afinal, qualquer consideração a respeito da obra pode ser encarada como mera rasgação de seda. Mas, ainda que se corra esse risco, seguem-se as linhas abaixo sobre o filme.
A história que vemos ser contada aqui é a de Alvy Singer (Woody Allen) e Annie Hall (Diane Keaton) e das respectivas neuroses que os acompanham. Ele é um humorista que vem de uma família judia (sabidamente, uma das obsessões de Allen em sua filmografia). Ela, uma cantora de casas noturnas.
Tão logo se conhecem, eles se encantam e se apaixonam um pelo outro. Mas, dia após dia, verão seu relacionamento ser minado. Não por forças externas, mas pelas pequenas loucuras de cada um deles. Numa paráfrase às avessas com a célebre frase de Sartre, o inferno são eles mesmos.
Allen filma meticulosamente todas as dores e alegrias que vêm com o amor. Há sempre o ônus do bônus, e o diretor deixa isso bastante claro desde o início da filmagem. Vemos os momentos mais triviais do relacionamento de Alvy e Annie sendo retratados calmamente pela câmera de Allen, e o humor surge de forma bem naturalista.
Uma das cenas mais icônicas de todo o filme é a do casal na fila de um cinema, ocasião na qual eles discutem sobre o filme que assistirão, e Alvy se incomoda com os comentários inconvenientes do espectador que está logo atrás dele. Uma sequência antológica, que beira o magistral.
Quando Woody Allen lançou o filme, corria o longínquo ano de 1977, e ele vinha de uma carreira ainda curta como diretor, iniciada em 1969 com "Um assaltante bem trapalhão". Aqui, entretanto, já aparecem as marcas registradas de sua obra: verborragia, aliada a uma flagrante mordácia, que se refletem em diálogos inspirados, protagonistas inseguros e deslocados no mundo e muitas situações inusitadas.
Alvy não tem medo de ser ridículo, e até tenta de tudo pelo seu romance com Annie, mas ambos são pessoas complicadas e cheias de incertezas. Seres humanos, afinal.
O relacionamento dos dois chega ao fim, e a certeza que se tem com isso é apenas uma: o homem sempre precisa de uma companhia, como uma galinha necessita dos ovos que choca. Essa é umas das frases finais do filme, quando Alvy vai ao psiquiatra e diz que seu irmão pensa ser uma galinha. Questionado sobre o porquê de não alertar o irmão a respeito de seu engano, ele diz que precisa dos ovos. Menos do que genial, impossível.

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