23 de jul. de 2009

"A fronteira da alvorada", um ensaio sobre a beleza

Existem temas que são universais. O amor, o relacionamento entre pai e filho, as consequências de uma escolha, entre outros. Como uma arte universal, o cinema sempre se encarrega de abordar esse assuntos. Nenhum deles é mais abordado, entretanto, como o amor. O sentimento assume diversas facetas, e o verbo amar é conjugado em todas as pessoas. Assim como se vê em "A fronteira da alvorada", trabalho mais recente do cineasta francês Phillipe Garrel, em atividade desde 1964.
Nesse novo filme, ele volta a dirigir seu filho, o talentoso Louis Garrel, que dá vida a François, um fotógrafo que é contratado para fazer imagens de Carole (Laura Smet), uma atriz que passa a maior parte do tempo sozinha em casa por causa do trabalho do seu marido, que está sempre viajando. Ele também trabalha com cinema, mas na produção.
A chegada de François à vida de Carole irá modificá-los para sempre. Quase como se fosse inevitável, eles dão início a um romance. François se deixa levar pelo fascínio que a imagem de exerce sobre ele. Logo nos primeiros cliques, ele nota como o semblante da atriz transpira desalento e abandono. A bela figura de Laura Smet é, de fato, perturbadora, como sua beleza. O espectador pode se impressionar, como François.
Mas surge logo aqui e ali um problema no romance entre o fotógrafo e a atriz. Um deles é o ciúme excessivo de Carole. Outro se torna fatal para a relação. Um dia, o marido de Carole - que é mais mencionado que visto - chega mais cedo em casa, obrigando François a fugir. Ofendido com a situação, François para de se encontrar com Carole, fazendo com que ela fique desarvorada.
Carole passa a correr atrás de François, mas ele permanece irredutível. Essa indiferença de François faz com que ela se desepere cada vez mais e, logo, ela vai parar em um manicômio. Pouco tempo depois, Carole se suicida, num dos momentos mais trágicos do filme.
É a partir de então que a narrativa fica mais ancorada no imaginário, já que François, um ano depois da morte de Carole, começa a ver seu fantasma no espelho. A imagem da atriz o atormenta, e ela lhe pede que ele vá fazer companhia a ela no mundo dos mortos. Ele está em um novo relacionamento, mas essa figura o aturde.
Interessante é observar como Phillipe Garrel não tem pudores em desconstruir imagens e se firmar no terreno do realismo fantástico para contar sua história. Há uma sequência em que o diretor lança mão, ainda mais, desse recurso, ao filmar uma espécie de delírio de François com Carole.
Uma das melhores passagens do filme é um diálogo entre o casal, no qual Carole apresenta a François a teoria do para-brisas. Segundo essa teoria, os amantes são como um para-brisas: quando um se aproxima, o outro se afasta e, quando o outro se achega, é o que se aproximou que passa a se distanciar. Aí está uma maneira alegórica de se falar da eterna incongruência que surge ao longo de um relacionamento amoroso.
A maneira como a história dos dois amantes caminha para o fim resulta em quase poesia. Visualmente, inclusive, "A fronteira da alvorada" é deslumbrante. A fotografia em preto e branco, quase uma obsessão do diretor, se repete aqui, gerando imagens quase icônicas. O filme pode ser resumido como um ensaio sobre a beleza, capaz de levar a atos absolutamente impensados.

18 de jul. de 2009

"Dogville": uma alegoria para a maldade do ser humano

Lars Von Trier é um cineasta altamente controverso, desde que apresentou ao mundo seu primeiro filme. Ele certamente é daqueles profissionais que se enquadram no rol dos realizadores, que são muito mais do que diretores. A obra de Von Trier é autoral e provocativa, abrindo espaço para o desenvolvimento de uma consciência crítica por parte do espectador.
"Dogville" é mais um atestado dessa capacidade de inquietar tão inerente à filmografia do dinamarquês.O que se tem aqui é um flagrante do quanto o homem pode ser cruel quando seus interesses estão em jogo.
Nos anos 30, Grace (Nicole Kidman) é uma mulher misteriosa que está fugindo da perseguição de gângsters. Os EUA acabaram de mergulhar na Grande Depressão, o que gerou perdas irreparáveis em todo o país. Grace consegue encontrar um lugar que parece ser seu refúgio perfeito. O lugar se chama Dogville. A chegada dessa intrusa causa desconfiança na população local, mas logo Tom (Paul Bettany), um dos moradores da cidade, consegue interceder junto aos habitantes por Grace, e eles concordam em abrigá-la ali.
Mas há uma troca entre Grace e os moradores de Dogville. A população a protege, mas ela terá de prestar pequenos favores para todos.
Não fica claro, nem mesmo para o espectador, se Grace tem ou não alguma culpa no cartório para estar sofrendo perseguição. Mas logo a personagem ganha a empatia do público, que acompanha sua saga.
São muitos os trunfos de "Dogville". Talvez o maior deles seja sua estrutura teatralizada. É uma proposta radical, mas os cenários do filme não "existem", são apenas sugeridos. O filme foi rodado inteiramente em um galpão na Suécia, e todos os elementos necessários para as cenas são mencionados, e não vistos. Essa peculiaridade do filme exige que se eleve a um alto grau a suspensão da descrença, para que o espectador entre, de fato, na atmosfera particular da cidadezinha. Só se sabe que há um cachorro na cena, por exemplo, porque aparece a palavra "dog" escrita no chão. Das portas das casas dos moradores se ouve apenas o barulho. Com esse longa, Von Trier demonstra não levar mais a sério as regras do Dogma 95, manifesto do qual ele é signatário, como seu contarrâneo Thomas Vintemberg. Uma das premissas desse movimento era a recusa em se utilizar cenários, coisa que Von Trier faz o tempo todo em "Dogville".
Mas isso são pequenezas diante do cinema exemplar que o cineasta nos oferece com esse filme. Aos poucos, Grace começa a ser explorada para além do que estava previsto inicialmente no acordo entre ela e os habitantes de "Dogville". A ameaça dos gângsters também fica cada vez mais próxima. Grace começa a notar que o que parecia uma relação de mutualismo se transformou em franca exploração.
"Dogville" é o primeiro filme de uma trilogia idealizada por Von Trier, intitulada "EUA - Terra das oportunidades". Sua intenção com essa obra é declaradamente desconstruir a imagem que se tem da Terra do Tio Sam, mostrando a vileza dos moradores de Dogville, que se aproveitam da situação de dependência de Grace para humilhá-la. Entretanto, a narrativa serve para falar do homem de uma maneira universal. "Dogville" se mostra como uma alegoria sobre o instinto de maldade latente no homem, que é apenas disfarçado pelas convenções sociais, mas nunca totalmente extirpado de nossos interiores.
Todo o elenco apresenta um excelente rendimento, e são muitas as sequências inspiradas dessa obra magnífica. A história é contada em capítulos, com direito a um prólogo e um epílogo, que trazem vistas superiores da cidade fictícia. Além disso, há um narrador que tec comentários a respeito das ações que transcorrem no filme, algumas vezes de forma irônica.
De qualquer modo, todo julgamento cabe ao espectador. Apesar de toda a mordácia com que o cineasta critica o capitalismo e desmonta algumas convicções sobre o ser humano, o juízo de valor é absolutamente particular.

16 de jul. de 2009

A realidade nua e crua de "A criança"

Para quem não conhece o cinema praticado pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, algumas apresentações podem ser interessantes. A dupla de cineastas belgas é conhecida por dirigir filmes com alta dose de realismo, calcada numa narrativa seca e quase documental, aproximando bastante o espectador do objeto que eles se propõem a retratar.
É exatamente o que se passa com "A criança", filme com o qual os Dardenne ganharam mais uma Palma de Ouro no Festival de Cannes. A anterior havia sido por "Rosetta", em 1999.
Aqui, eles trazem mais uma vez seu realismo típico para contar a história de Bruno e Sonia, vividos por Jérémie Renier e Débora François. Eles são muito jovens e acabaram de ter um filho juntos.
Mas o nascimento dessa criança é encarada de maneira diferente por cada um dos dois. Enquanto Sonia aproveita a chegada, ainda que não planejada, do filho, para amdurecer e ampliar os horizontes de sua vida, Bruno só enxerga no menino uma maneira de aplicar pequenos golpes para sobreviver. Ele tem num adolescente de menos de 15 anos um parceiro para suas trapaças.
Essa disparidade de perspectivas gera inúmeros conflitos para o casal, que se vê cada vez mais dividido, rumando para caminhos opostos. Nesse momento do filme, cenas bastante bonitas são dadas de presente ao espectador pelos irmãos Dardenne. Fica claro que Bruno é um rapaz imaturo, tão desamparado quanto o filho do qual acaba de se tornar pai. Com apenas 20 anos, ele também carece de alento e de atenção, como uma criança que não mede as consquências de seus atos irresponsáveis.
Há uma sequência na qual ele e seu comparsa fogem de um grupo de delinquentes que quer acertar contas com eles, e acaba se refugiando num rio, passando por um frio intenso e quase adoecendo.
Enquanto isso, Sonia tenta seguir em frente, amadurecendo e procurando um emprego para arcar com as despesas de criar um filho que não era esperado para agora. A maneira como é mostrada a tentativa de cresciemento da personagem é de uma realidade brutal. Como contadores de histórias, Jean-Pierre e Luc não estão interessados em fazer julgamentos morais sobre seus personagens, mas apenas em espiá-los e descobrir como eles se sairão nas mais diversas vicissitudes que a vida lhes impõe dia após dia.
Nada para o casal é fácil e, desse modo, o filme pode incomodar pela crueza com a qual a vida deles é mostrada. Mas "A criança" é um filme de uma coragem admirável.
Um dado curioso acerca dos bastidores do longa é que a criança do título foi "interpretada" por 20 bebês diferentes ao longo das filmagens. Ela era constantemente trocada pela produção do filme, mas o fato passa despercebido para quem assiste a ele.
No mais, é se preparar para acompanhar a trajetória complicada de dois indivíduos tentando achar seu lugar no mundo, mesmo aos trancos e barrancos. Por vias distintas, o que os dois querem, no fundo, é a mesma coisa. Descobrirem que são e até onde podem ir. Questionamentos de todos nós, sem sombra de dúvida.

14 de jul. de 2009

"Noivo neurótico, noiva nervosa" ou as armadilhas de uma relação

Falar a respeito de um filme tão aclamado e incrível como é "Noivo neurótico, noiva nervosa" é entrar num terreno de areia movediça. Afinal, qualquer consideração a respeito da obra pode ser encarada como mera rasgação de seda. Mas, ainda que se corra esse risco, seguem-se as linhas abaixo sobre o filme.
A história que vemos ser contada aqui é a de Alvy Singer (Woody Allen) e Annie Hall (Diane Keaton) e das respectivas neuroses que os acompanham. Ele é um humorista que vem de uma família judia (sabidamente, uma das obsessões de Allen em sua filmografia). Ela, uma cantora de casas noturnas.
Tão logo se conhecem, eles se encantam e se apaixonam um pelo outro. Mas, dia após dia, verão seu relacionamento ser minado. Não por forças externas, mas pelas pequenas loucuras de cada um deles. Numa paráfrase às avessas com a célebre frase de Sartre, o inferno são eles mesmos.
Allen filma meticulosamente todas as dores e alegrias que vêm com o amor. Há sempre o ônus do bônus, e o diretor deixa isso bastante claro desde o início da filmagem. Vemos os momentos mais triviais do relacionamento de Alvy e Annie sendo retratados calmamente pela câmera de Allen, e o humor surge de forma bem naturalista.
Uma das cenas mais icônicas de todo o filme é a do casal na fila de um cinema, ocasião na qual eles discutem sobre o filme que assistirão, e Alvy se incomoda com os comentários inconvenientes do espectador que está logo atrás dele. Uma sequência antológica, que beira o magistral.
Quando Woody Allen lançou o filme, corria o longínquo ano de 1977, e ele vinha de uma carreira ainda curta como diretor, iniciada em 1969 com "Um assaltante bem trapalhão". Aqui, entretanto, já aparecem as marcas registradas de sua obra: verborragia, aliada a uma flagrante mordácia, que se refletem em diálogos inspirados, protagonistas inseguros e deslocados no mundo e muitas situações inusitadas.
Alvy não tem medo de ser ridículo, e até tenta de tudo pelo seu romance com Annie, mas ambos são pessoas complicadas e cheias de incertezas. Seres humanos, afinal.
O relacionamento dos dois chega ao fim, e a certeza que se tem com isso é apenas uma: o homem sempre precisa de uma companhia, como uma galinha necessita dos ovos que choca. Essa é umas das frases finais do filme, quando Alvy vai ao psiquiatra e diz que seu irmão pensa ser uma galinha. Questionado sobre o porquê de não alertar o irmão a respeito de seu engano, ele diz que precisa dos ovos. Menos do que genial, impossível.

12 de jul. de 2009

Lente de aumento sobre o amor em "Closer - Perto demais"

É sempre bom quando o cinema consegue conjugar entretenimento e reflexão, já que na atualidade somos bombardeados cada vez mais com obras totalmente desprovidas de conteúdo.
Felizmente, o caso de "Closer - Perto demais" é o primeiro. Não há como não se render diante do espetáculo, para o bem e para o mal, que o roteirista Patrick Marber e o diretor Mike Nichols oferecem ao público.

O filme acompanha a jornada de encontros e desencontros amorosos vivida por um jornalista, uma fotógrafa, um dermatologista e uma stripper. Seus nomes: Dan (Jude Law), Anna (Julia Roberts), Larry (Clive Owen) e Alice (Natalie Portman).

Tudo começa quando Dan e Alice se conhecem num acidente na rua. Alice é atropelada, e Dan a salva. Dali a pouco, os dois estarão perdidamente apaixonados e um não conseguirá mais viver sem o outro. Marber já brinca com essa maneira repentina de amar que algumas pessoas têm logo nesse início (ou meio, o que fica mais provável lá na frente).

Mas Dan logo se encanta por Anna, uma mulher de espírito independente, o que devasta Alice. Em uma fala do personagem, fica claro o porquê de sua atração por Anna: "Eu gosto dela porque ela não precisa de mim."

Dan e Anna vivem, então, um intenso romance, mas Dan, por uma brincadeira idiota, acaba aproximando Anna de Larry, e os dois se envolvem.

Apenas por essa pequena amostra da narrativa, percebe-se que se forma uma teia entre oquarteto, da qual dificilmente qualquer um deles escapará ileso.

Ao longo de vários meses, vemos as idas e vindas e Dan e Alice e de Anna e Larry. Sentimentos como culpa e traição são jogados na tela com uma crueza raramente vista no cinema, inclusive em termos de diálogos. "Closer - Perto demais" não é um filme sobre o amor e suas benesses, mas um profundo ensaio sobre a inabilidade dos amantes diante de tal sentimento. O amor mostrado no filme perturba, deixa sequelas e arrasta o indivíduo para uma espiral de loucura e descontrole.

Certamente, haverá identificação por parte do espectador com algum dos personagens ou situações mostradas na história. Quem nunca sofreu por amor ainda, um dia vai experimentar essa amarga sensação. Não há como escapar.

A trilha sonora é outro achado do filme. A balada de "The blower's daughter" na voz de Damien Rice não sai da cabeça de quem vê a história tão cedo.

Talvez o viés sob o qual Marber (e Nichols, que filmou o roteiro) enxergue o amor seja um pouco pessimista, mas não há como não se encantar com a maneira como a trama é construída e amarrada. E um filme sobre o amor será sempre universal.

8 de jul. de 2009

"A bela Junie": o tema de sempre sob um olhar afetivo


Christophe Honoré é apontado como um dos mais promissores cineastas franceses da atualidade. Pode até ser que já tenha mostrado a que veio, que é o que eu penso. Em "A bela Junie", Honoré mostra mais uma vez todo o seu charme ao adaptar para o cinema o livro de Madame de la Fayette. A trama em si não guarda muito de originalidade. Mas sou partidário da ideia de que um bom filme e uma boa história não precisam necessariamente ser originais. Mais importa a forma de se conduzir a trama do que propriamente sua originalidade. Vide como exemplo gemas como "Closer - Perto demais" e "Pequena Miss Sunshine", cujas histórias não são inéditas, mas que apresentam conduções muito eficientes.
Mas vamos à trama do filme em questão: Junie, personagem-título, é uma jovem de 16 anos que acabou de perder seus pais. Com isso, muda de escola no meio do ano junto com o irmão Mathias. Sua beleza logo chama a atenção dos meninos do colégio, que tentam de tudo para conquistá-la. Mas Junie se interessa por Otto, rapaz taciturno e tímido, que tem dificuldades em demonstrar o amor que sente por ela.
Porém Junie logo descobre que seu amor de verdade será por Nemours, seu professor de italiano. Ela se recusa a viver esse sentimento por acreditar que ele não será dela para sempre, e decide não levar adiante esse sentimento.
Há ainda espaço para a trama de Mathias, um jovem em dúvida quanto à sua sexualidade, e que mantém um caso secreto com um rapaz, que logo vira do conhecimento de todos na escola.
Com elementos de uma peça shakesperiana, "A bela Junie" aposta no já visto tema da ciranda de desencontros amorosos. Mas o apresenta de uma maneira muito bem costurada e atraente, tornando-se muito mais interessante de se acompanhar o desenrolar dos fatos.
É certo que haverá sofrimento de amor para ambas as partes, pois nunca os dois deixam de amar ao mesmo tempo.
É certo também que haverá morte, física mesmo, para algum dos envolvidos, só não se pode revelar quem.
Louis Garrel, ator-fetiche de Honoré, mais uma vez está lá. E mais uma vez se sai muito bem, dessa vez na pele de um homem que se torna vítima dos próprios brios.
Um senão do filme é a cena em que um personagem canta sua tristeza enquanto caminha pelas ruas. Um momento musical desnecessário.
Em alguns momentos, Honoré pode soar grandiloquente sem necessidade, mas isso não chega a ser sintomático em sua filmografia. A direção de atores também é outro ponto forte do filme, embora Garrel pareça estar além de seu bom rendimento habitual.

6 de jul. de 2009

"Sinédoque, Nova York" e o inusitado no cotidiano




"Sinédoque, Nova York" é quase uma redundância em termos de genialidade kaufmaniana. Falar que ele é um excelente roteirista é, de fato, chover no molhado.
Suas obras parecem convergir para um mesmo objetivo: captar, sob a perspectiva do insólito, aspectos fundamentais do homem. Com seus roteiros inventivos e soberbos, ele flagra a finitude humana, a agonia do existir, e se apropria de modo espetacular da metalinguagem, chegando a uma espécie de realismo fantástico.
A sua obra também encontra aparentamento nos filmes do não menos genial Wes Anderson, realizador de pérolas como "Os excêntricos Tenembaums" e "A vida marinha com Steve Zissou". Ambos exibem uma galeria de tipos extravagantes, tal qual os "loucos adoráveis" de Kaufman.
Mas, falando especificamente de "Sinédoque, Nova York", se há uma palavra-chave para "definir" o filme (que está mais para indefinível), ela muito provavelmente é solidão. E este é o primeiro filme com Kaufman também na direção.
Caden Cotard, personagem do sempre ótimo Philip Seymour Hoffman, partece estar fadado a uma vida solitária. Afinal, sua esposa o abandona, sua filha prefere uma estranha à sua companhia, e seu projeto de vida nunca chega a se concretizar de fato, que é a peça sobre ele mesmo, que ele tenta reproduzir no galpão de um grande armazém.
A propósito da peça, é a partir do início dos ensaios para sua apresentação que o filme, que já vem até então num ritmo contagiante, evolui para um tratado sobre a personalidade humana e o eu-personagem, além de destacar o olhar do autor sobre sua obra, num viés majoritariamente psicanalítico.
A diversidade do eleco feminino é um outro grande achado do filme. Ele é composto por atrizes veteranas - à exceção de Michelle Williams - que não estão toda hora em cartaz. Todas, desde Catherine Keener, que já havia trabalhado num filme com roteiro de Kaufman, "Quero ser John Malkovich", a Diane Wiest, que demora um bocado para entrar em cena, estão perfeitas em suas composições, deixando o espectador em estado de graça.
Mas, discorrer a contento sobre todas as camadas e possibilidades do filme me parece impossível. É como querer dar conta de todas as estrelas do céu, numa comparação talvez exagerada.
Por isso, me limito a falar acerca das minhas impressões de cinéfilo acerca dessa obra monumental. E essas linhas, repito, são póuco diante do que Kaufman nos proporciona, tanto em termos de narrativa como em termos de atuações e enredo.
Issso porque ele se propõe a tratar de coisas de que as palavras não dão conta. Sempre haverá um abismo entre o que se pensa e o que se diz.
O filme é, em suma, uma espécie de épico da natureza humana muito bem engendrado, com passagens que beiram o pitoresco, mas que não são deméritos. Ao contrário, enriquecem o panorama sobre o que é o ser.

5 de jul. de 2009

"Caché", um filme sobre chantagem e paranoia

Perturbador é uma palavra perfeita para definir "Caché", trabalho recente do cineasta Michael Haneke, conhecido por obras como "Violência gratuita" e "A professora de piano". Nesse novo filme, ele dirige os ótimos Daniel Auteuil e Juliette Binoche, que dão vida a Georges e Anne.

O filme começa com a imagem de uma casa vista de frente. Por ali passam algumas pessoas, que levam suas vidas dentro da normalidade. Até que vemos a imagem sendo rebobinada, e percebemos que se trata de um vídeo que estava sendo assistido por Georges e Anne, o qual mostra o cotidiano deles flagrado detalhadamente. Nota-se a expressão pasma do casal, que traz com ela uma certeza: alguém os está espionando.

Georges apresenta um programa de crítica literária na televisão, e Anne é uma editora de livros. Os dois têm apenas um filho, o adolescente Pierrot. A rotina deles vem sendo abalada pelo envio constante de fitas de vídeo contendo imagens do dia a dia dos três. Junto com esses vídeos, vêm também desenhos bastante estranhos, aparentemente sem significado. O fato desequilibra o relacionamento dos dois, já que Anne começa a acreditar que Georges está escondendo algo dela. O apresentador, por sua vez, suspeita de um autor para as ameaças: seu irmão de criação, que ele não vê há muito tempo, e com quem viveu um episódio traumático na infância que, até antes das fitas, Georges acreditava estar superado.

Daí para e frente, vemos vir à tona sentimentos como culpa e paranoia, numa narrativa um tanto elíptica, que faz o espectador entender e concluir algumas situações por conta própria. Contar mais sobre o desenrolar dos fatos é entregar de bandeja um filme que precisa ser saboreado com calma, e que, seguramente, deve ser visto duas vezes.

Haneke não está preocupado em dar respostas ao espectador, mas em levantar uma série de questões para debate. Não apresenta uma única verdade, mas leva a uma série de conjecturas, que podem ou não apontar para uma conclusão.

Seu final abrupto é a coroação de um trabalho que nunca segue pelo caminho mais fácil, e revolve feridas que muitas vezes as pessoas lutam para manter escondidas, encobertas pelo silêncio.

4 de jul. de 2009

O questionamento da vida em "As horas"









São raros os filmes que dizem tanto com tão pouco, mas certamente esse é o caso de "As horas", segundo filme do diretor Stephen Daldry (Billy Elliot), que mostra mais uma vez talento e desenvoltura atrás das câmeras.

Aqui, ele reúne um elenco maravilhoso para um projeto ousado. O filme é calcado numa narrativa tríptica, para a qual é exigida atenção constante do espectador. Logo de início, somos envolvidos pela atmosfera algo soturna da personalidade de Virginia Woolf (Nicole Kidman), escritora inglesa cuja obra final, "Sra. Dalloway" irá influenciar uma dona de casa nos anos 50, a frágil Laura Brown (Julianne Moore, fantástica) e se "concretizar" nos dias atuais, através da vida de Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que, como as outras mulheres, está atravessando uma crise existencial.
Cada uma das três está vivendo também uma fase de questionamentos, o que gera várias passagens de silêncios, que são reflexões internas das personagens. Toda a ação do filme se passa em um único dia, que é o que acontece também no livro que Virginia está escrevendo.
Vamos ao drama específico de cada uma delas.
Virginia está à volta com um tratamento que rejeita contra sua insanidade. Ela vem ouvindo vozes, o que a faz ficar profundamente perturbada. Inveja a vida da irmã que, por sua vez, a acha uma mulher de sorte, pois tem duas vidas: a dela e a do livro que está escrevendo. Mas Virginia deseja uma outra vida. Cabe ressaltar aqui o excelente trabalho de composição de Nicole Kidman, enfeada por uma prótese no nariz e muita maquiagem. É clichê, mas é necessário dizer que ela "desaparece" na personagem.
Laura vive um casamento que não é como ela desejava. Tem um filho pequeno e está grávida do segundo. Deseja viver uma outra vida também. Sua vizinha Kitty (Toni Collette) a considera uma bem-aventurada porque, ao contrário dela, que tem um problema no útero, Laura pode engravidar. Laura decide tomar uma atitude radical em sua vida, mas algo a impede.
Finalmente, Clarissa está preparando uma festa para comemorar o prêmio de poesia conquistado por seu grande amigo Richard (Ed Harris), que acabou de se assumir portador do vírus da AIDS. Para ele, foi apenas sua doença que lhe possibilitou levar o prêmio. Em dado momento do filme, Clarissa extravasa sua crise interior num diálogo tenso com Louis (Jeff Daniels), que teve um romance com Richard no passado. É uma das passagens mais marcantes do filme.
A questão central de "As horas", que perpassa todos os núcleos da história. é do conformismo x inovação. Há um desejo enorme nessas mulhesres de trilhar o caminho que bem entenderem, sem necessariamente estarem presas às amarras das convenções. O modo como Daldry expõe as tramas também contribui para que o filme se torne bastante reflexivo.
Pode até não levar às lágrimas, mas certamente é um filme capaz de inquietar, de fazer questionar quem somos e o que estamos fazendo dos dias que no foram dados para estar sobre a terra: nossas vidas. É, antes de qualquer coisa, um filme sobre mim, sobre você e sobre todos nós.

2 de jul. de 2009

Número de CDs de Jackson vendidos em 11 anos é superado em 24 horas


Os números de venda de discos do rei do pop já eram de assustar pelo sempre presente sucesso, mas a surpresa é a evolução de procura por materiais do artista após a sua morte.

Nas primeiras 24 horas após a morte do cantor, o site Amazon vendeu a mesma quantidade de álbuns que já haviam sido comercializados nos últimos 11 anos.

Nem quando Elvis Presley ou John Lennon morreu a evolução de vendas de discos chegou a aumentar com tamanha violência. Os CDs de Michael venderam 80 vezes mais após o falecimento, segundo a rede de música HMV.

Novas Temporadas de Séries da CW

Ótima notícia para os fãs de "Smallville", "Supernatural", "Gossip Girl", "One Tree Hill" e da novata "90210": as cinco séries tiveram novas temporadas garantidas pelo canal americano CW!

"Ao seguirmos no processo de fazer da CW uma emissora para jovens mulheres, estas seis séries contribuíram para fortalecer nossa programação e a identidade de nossa marca. Assegurando a estas atrações a presença na nova temporada, estamos estendendo nosso compromisso em fazer uma programação original de alta qualidade para nossos espectadores, anunciantes e afiliadas", afirmou em declaração à imprensa a presidente do canal, Dawn Ostroff, segundo o colunista da Entertainment Weekly Michael Ausiello.

A emissora - que também garantiu mais duas temporadas para o reality show "America's Next Top Model" - deixou de fora de sua lista atrações como "Reaper", "Everybody Hates Chris", "The Game" e outra estreante, "Privileged". E sobre a série das patricinhas Rose e Sage, mas palavras de um informante de Ausiello ligado ao canal, "nenhuma decisão ainda foi tomada". Será?



Retirado do Site: Séries ETC...

Harry Potter: Assista a Duas Novas Cenas

O filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe que tem estréia mundial marcada para 15 de julho ganhou mais dois novos videos. O primeiro mostra o trio conversando sobre o príncipe mestiço e o segundo mostra o ataque dos comensais da morte a toca, está cena não existe no livro e foi feita exclusivamente para o filme, confira Abaixo:

O segundo video pode ser visto clicando aqui

1 de jul. de 2009

Mundo Fox Agora Com TV Online


O site mundo fox disponibilizou para nós brasileiros mais de 800 horas de contéudo de seus canais: Fox, FX, NatGeo, Speed, o infantil NatGeo & Eu e Bem Simples. Você poderá assistir suas séries e programas favorítos sem precisar de download, diretamente pelo site. O contéudo do Mundo FOX está em seu idioma original com legendas em português.

Pra quem curte as séries da Fox como eu e não tem os dvds em casa é uma boa opção de entretenimento, fica aí a dica.
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O Mundo Fox