
O filme se centra em uma série de episódios acerca de uma família novaiorquina que tem seu cotidiano marcado pelo rádio, a invenção mais revolucionária entre os meios de comunicação daquele tempo. Toda a ação do longa é voltada para uma aura de idealização que toca o espectador desde as primeiras cenas. Não há protagonistas absolutos, mas o pequeno Joe Needleman, um menino de apenas 10 anos de idade, é um dos personagens mais cruciais da narrativa. Interpretado por Seth Green, que depois viria a fazer muitos outros filmes, como "Os queridinhos da América" (2001) e "Uma saída de mestre" (2003), ele é fascinado pelas histórias incríveis que escuta nos noticiários do rádio, e também em programas sensacionalistas típicos daquela fase e que, ainda hoje são uma praga difícil de ser exterminada. Ele também se encanta com o que hove sobre belas mulheres, que acabam povoando seus sonhos de garoto em fase pré-adolescente.
Joe é apenas um dos tipos de uma vasta galeria oferecida por Allen, que traz uma família com membros de toda natureza. Atualmente, empregá-los é cair no lugar-comum, mas Allen os utilizou primeiramente com grande originalidade e frescor. São muitos os destques no elenco de veteranos, como a tia insaciável e solteirona vivida por Dianne Wiest, que arranca muitas risadas com suas aventuras amorosas sempre frustradas. E também o pai austero e convincentemento censor interpretado por Michael Tucker, que mantém um caso com uma charmosa vendedora doces, Sally (Farrow). Com esse e outros personagens cativantes, "A era do rádio", evoca um pouco dos filmes de Fellini, que sabia tocar em temas como o crescimento de um indivíduo e a memória como poucos faziam.

A direção afiada de Woody Allen contribui para que o filme figure entre os seus melhores, mesmo que não apresente muitas novidades entre o que ele filmara antes ou filmaria posteriormente. É uma delícia acompanhar a desventuras de Joe e de seu clã, que são narradas com sarcasmo pelo próprio diretor, exercitando novamente sua veia bem-humorada. Ao longo dos enxutos 85 minutos de projeção, desfilam pela tela personagens memoráveis como Biff Baxter (Jeff Daniels) - curiosamente, seu personagem tem o mesmo sobrenome do que ele viveu em "A rosa púrpura do Cairo" e o cantor de rádio de William H. Macy, que surge em uma das noites de show do clube onde Sally trabalha.
Resumindo, o estilo inconfundível de Woody Allen, que tem talento de sobra para conduzir tramas temperadas com o melhor da ironia e da inteligência é o maior atrativo de "A era do rádio", que se encaixa entre os grandes sucessos da década de 80 na carreira do diretor, e que trazuma bela homenagem a um tempo que já não existe mais, cheio de glamour e emoção. Por meio de seus personagens cativantes e adoráveis, emerge uma nostalgia apaixonante, que enreda o público numa trama doce e inofensiva. Hoje, sabe-se de antemão que carreiras de sucesso como as mostradas no filme conheceriam a decadência, mas o que se guarda na memória são apenas os áureos tempos.
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