Espectadores habituados a escolher o filme a que vão assistir pelo título podem ser afugentados por "Eu, meu irmão e nossa namorada". Afinal, tudo indica que se trata de mais uma comédia boboca, daquela que se produz aos montes anualmente em Hollywood e ganha sempre um espaço nas salas de exibição. Mas o caso desse filme é diferente. Levar-se por sua nomenclatura é cair em ledo engano.
Aqui, tem-se uma série de boas razões para se acompanhar uma história redonda, com roteiro muito bem azeitado, personagens cativantes e situações que fogem dos chavões tão caros a diretores despojados de inventividade. As peripécias nas quais eles se envolvem são uma delícia de se acompanhar, a fim de se descobrir qual será a solução para o nó da narrativa.
Contada em linhas não tão reveladoras, para que não se estraguem as surpresas que haverão de surgir, o filme mostra a vida trivial de Dan (Steve Carrel, de talento incontestável para o humor), um viúvo pai de três filhas, que não se apaixona de verdade por alguém há tempos. Ele tenta se manter próximo das meninas, mas elas estão cada vez mais distantes, lépidas com a chegada da fase adolescente. Ele escreve para um jornal local, e decide passar um fim de semana nas montanhas com a família que pouco vê. Para Dan, a vida tem de ser sempre cheia de regras de boa conduta, as quais acabaram por aprisioná-los sem que ele se desse conta disso. Uma vez iniciado esse final de semana, ocorrerá um incidente que será decisivo para modificá-lo.
O motivo de sua mudança atende pelo nome de Marie (Juliette Binoche, ainda linda), uma mulher simpática que desperta seu interesse logo de cara, assim que ele a vê em uma livraria. A chegada de Dan àquele local se deve a ums situação desconfortável que ele acabara de viver com seus pais e outros parentes, que insistem em interferir em sua vida, até mesmo na educação que ele dá para as filhas, aborrecendo-o profundamente. Tímido, e por isso mesmo, com dificuldades de se aproximar de uma mulher, ele vê as barreiras que o atrapalham desmoronar diante de Marie. É de uma graça e simplicidade incríveis a cena em que ele se passa por um vendedor e dá dicas de livros interessantes a Marie, assumindo uma posição inesperada de cara de pau. Aquela bela mulher consente em levar as obras sugeridas por ele, e os dois vão rapidamente da simpatia ao bem querer um pelo outro, sem que nada possa lhes servir de aviso prévio.
Isso vira um grande problema quando Dan descobre que Marie é ninguém menos que a nova namorada de seu irmão, o aparvalhado Mitch (Dane Cook). Nada permanece tão fácil como aparentava, portanto. Resta a Dan encontrar uma maneira de se livrar dessa terrível saia justa em que se meteu. Exatamente quando ele encontra aquela que pode ser a mulher de sua vida, o destino lhe prega uma peça? A essa altura, o público já foi conquistado pela doce melancolia de Dan, e vem a torcida para que ele consiga arrumar a desordem que se transforma sua vida pacata.
O que se segue é uma sucessão de cenas deliciosas, que tornam o filme uma comédia romântica assumida, mas num patamar superior ao de muitas outras. "Eu, meu irmão e nossa namorada" é um filme de categoria. O diretor Peter Hedges (Do jeito que ela é) se baseou em experiências vividas por ele mesmo em família para contar a trama do longa. Mas nunca procurando o caminho mais fácil para a resolução do problema criado no enredo. A grande sacada do filme é apresentar personagens que encantam por sua simplicidade, e atores entragando desempenhos formidáveis. A dupla central vivida por Carrel e Binoche, tem excelente química, que salta aos olhos. E cada passo dado pelos seus personagens em cena colabora para que todo o filme seja uma coleção de pequenos achados imperdíveis. O roteiro valoriza os detalhes, e investe em cenas criativas ou delicadas e apaixonantes. Como a sequência em que Marie ensina Dan, as filas e Mitch a dançar uma coreografia contagiante. Dá vontade de sair dançando em pleno cinema, ou em casa, dependendo de onde você estiver assistindo ao filme.
Infeliz mesmo é o título em português que esse filme ganhou. No original é "Dan in real life", muito mais eficiente e interessante. Bastaria que fosse traduzido: Dan na vida real. Como já dissera anteriormente, "Eu, meu irmão e nossa namorada" remete a uma historiazinha idiota, com um show de obviedades, muito distante da verdadeira realidade desse filme. Liberto de amarras que o prendam a rótulos, que são sempre limitadores e quase sempre errôneos, o espectador que se decidir por acompanhar essa história não se arrependerá. Hedges conseguiu a alquimia perfeita entre humor e dor para narrar uma saga particular de quebra de paradigmas e renascimento através do mais nobre dos sentimentos, desde a literatura medieval: o amor.
12 de fev. de 2010
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