Toda essa introdução serve para pontuar sua importância no cenário artístico atual, em que pese sua não unanimidade entre os críticos. Mas esse já é um outro detalhe não tão pertinente... Christophe Honoré, um de seus compatriotas e contemporâneos, não goza de melhor prestígio, embora seja igualmente talentoso.

Em "Amor em cinco tempos", filme de título autoexplicativo, o grande achado é lidar com as perdas e ganhos de um casal pelo prisma da não-linearidade. O tema não poderia ser mais universal e de fácil identificação, o que é uma das explicacações para que o longa tenha o espectador nas mãos em poucos minutos de história. Todavia, evidentemente, isso não é o bastante. O argumento não é trabalhado de forma frágil, trazendo à tona um enredo que desperta vero interesse. Captam-se cinco momentos na vida de um casal absolutamente comum, Gilles (Stéphanie Freiss) e Marion (Valeria Bruni-Tedeschi, um oásis de beleza e competência), do dia do seu divórcio à ocasião em que se conheceram, numa praia.
Toda a trajetória dos amantes é delineada a partir desses cinco fragmentos, bem articulados, que evidenciam para o público o verdadeiro modo de ser e de agir de cada um. Logo, precebe-se que neste jogo de azar que é uma relação a dois nunca há culpados ou inocentes. Ambos os lados têm sua parcela de responsabilidade no sucesso ou no fracasso da união. É um afirmativa trivial e óbvia, mas que, esquecida no decurso de um namoro ou casamento, reclama sua evidência permanente.

O recurso empregado por Ozon, contar uma história de trás para a frente, não é novo. Em "Irreversível", Gaspar Noé já havia lançado mão desse mesmo expediente, apenas dois anos antes. Mas, se no filme protagonizado por Monica Belucci e Vincent Cassel o mote era o impacto de cenas difíceis de se esquecer, em "Amor em cinco tempos" a sua utilidade é um pouco diferente. Com o presente sempre antes do passado, torna-se notório que qualquer julgamento que se faz a respeito de um dos personagens, ou dos dois, pode ser totalmente equivocado. Só se descobre o que levou a cada atitude de Gilles ou de Marion depois que o segmento seguinte - na verdade, o anterior - é apresentado.

Também conta pontos positivos para o filme sua trilha sonora, com canções italianas, belas de doer. Elas ajudam a demarcar pontos cruciais da jornada de Gilles e Marion, que, entre um começo e um término oficiais, passam, também, pela gangorra das idas e vindas. Na cena em que Gilles tenta possuir Marion à força, fulgura um misto de amor recolhido com orgulho próprio abalado, sem que se saiba ao certo o que é cada sentimento. Certo, mesmo, é que sentimentos pouco arraigados sempre acabam.
Com o final anunciado logo na primeira sequência, não se pode afirmar que acompanhar o desfecho de um casal desfeito seja motivo para se assistir ao filme. Nada disso. Interessa, sim, entender e descobrir como tudo começou, e os sinais de que nada ia tão bem desde muito antes do fim de tudo. Afinal, o amor não acaba abruptamente, mas dá pistas, ainda que inexatas, de que está se esvaindo, seja em gestos, seja em olhares, seja em palavras que atravessam os momentos a dois. E Ozon demonstra essa crença com a habilidade de um poeta das incongruências de um casal.
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