Os amantes de um bom cinema foram presenteados por Bernardo Bertolucci através de "Os sonhadores". O mais recente trabalho do cineasta italiano, autor de clássicos como "Último tango em Paris" e "A estratégia da aranha" novamente arrebata a plateia, a exemplo dos filmes citados anteriormente.
Tudo em "Os sonhadores" colabora para que o filme seja uma experiência inesquecível. A começar pela atmosfera de sonho e idealismo que envolve o trio de protagonistas,dos mais belos atores jovens do cinema atual. São eles Eva Green, Louis Garrel e Michael Pitt, que parecem ter sido escolhidos a dedo pelo diretor para dar vida a Isabelle, Theo e Matthew. O cenário são os protestos pelo fechamento da Cinemateca Francesa, em pelo maio de 68, data icônica no calendário ocidental, na qual eles se conhecem. É sobre esse momento efervescente que se debruça a narrativa
de "Os sonhadores", cujo título porta uma ambiguidade instigante.
Matthew é um estadunidense que chega a Paris para estudar, enquanto Theo e Isabelle são gêmeos que moram com os pais na cidade, e mantém uma intimidade maior do que a que existe usualmente entre irmãos.
Ao longo do desenvolvimento do enredo, pode-se inferir que o trio tanto é sonhador porque é eternamente otimista quanto porque vive em um mundo à parte, desprovido de qualquer conexão com a realidade da qual todos devem, ao menos em tese, compartilhar. Entender que tipo de sonhadores são os três, porém, não é o imprescindível neste filme de forte apelo sensual. Ao trancafiar seus protagonistas em um apartamento, no qual exercitam sua paixão pelo cinema de forma intensa, ignorado o mundo lá fora, Bertolucci os desnuda, inclusive literalmente, haja vista as várias cenas de nudez do trio.
O cineasta mexe com o desejo do espectador, manipulando-o, em certa medida, em sequências como a que mostra Theo, Isabelle e Matthew dividindo uma banheira. São ocasiões que exalam um erotismo mesclado a uma inocência quase pueril, já que, apesar de se mostrarem inicialmente a Matthew como libertários, num segundo momento se apresentam como algo conservadores.
Há também um punhado de referências a filmes famosos de todos os tempos, que cinéfilos mais ávidos saberão reconhecer quase de imediato. Estão lá citações a nomes como Marlene Dietrich e Robert Bresson, por meio dos enigmas propostos pelos gêmeos a Matthew. Cúmplice da ação, o espectador também se sente instado a adivinhar o título de cada obra.
Em outras palavras, "Os sonhadores" é um filme absolutamente sensorial, que convida o público a mergulhar num universo permeado por sensualidade e ousadia. Cada fotograma transpira a inquietação de quem quer afirmar sua identidade para o mundo, mesmo que ainda não esteja muito seguro dela. Tal qual os três protagonistas em seu tempo de descobertas.
1 de out. de 2009
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