29 de set. de 2009

"Retratos de uma obsessão": o poder da imagem

Nada como acompanhar uma história bem contada com um enredo instigante. O bom cinema depende bastante desse fatores unidos, assim como se vê em "Retratos de uma obsessão", estreia de Mark Romanek na direção de longas-metragens. Oriundo do mundo dos videoclipes, onde a velocidade da imagem quase sempre é frenética, ele faz em seu primeiro filme um caminho inverso. Aqui, temos imagens pausadas, longos planos-sequências e diálogos lentos, em sua maioria.

O que Romanek está interessado em observar é o poder que a imagem pode exercer sobre um indivíduo, e quais as consequências que isso pode gerar.
Para isso, foca suas lentes na história de Sly Parrish (um Robin Williams sério), que trabalha num pequeno laboratório de revelação de fotos. Ele revela, há anos, as fotos dos Yorkin, uma família que considera perfeita. Tudo indica que essa concepção venha do fato de que as imagens reveladas são sempre de momentos felizes vividos pel família, como aniversários e passeios. Sly crê piamente que existe uma harmonia inquebrável entre os membros, e sente dentro de si um desejo enorme de pertencer àquela família. O tom intimista do filme se manifesta desede o início, e uma prova cabal de que o sentimento dele pelos Yorkin passou da simples admiração é a cena em que aparece uma das paredes da sua casa coberta por fotos dos pais e do filho, os componentes da família.
Mas logo Sly faz uma triste decoberta: Will, o pai, está traindo a esposa com outra mulher. O fato causa uma grande perturbação em Sly, que decide intervir na vida dos familiares, no afã de restaurar um equilíbrio que ele julagava existir, mas que, há muito, já havia sido rompido por uma série de circunstâncias.
É a partir daí que o filme ganha em força dramática, e sua excelência se deve em grande parte à atuação visceral de Robin Williams, que se desvencilha de seus personagens cômicos para dar vida a um homem atormentado e solitário, cuja única referência de felicidade é perdida abruptamente, tirando seu chão. Ele entrega um trabalho diferente do qual nos habituamos a vê-lo fazer nos últimos anos, num papel que representa uma virada em sua carreira.
Outro mérito do filme é sua fotografia em tons esbranquiçados e um tanto monótona, que dá ao espectador a sensação de Sly diante da vida, que é totalmente sem perspectivas. A imagem tem presença determinante em sua vida, já que seu cotidiano é trazer para o papel momentos que as pessoas não querem esquecer nunca. Essa é uma das grandes sacadas do roteiro, que se apoia em um trama simples, narrada pelo próprio Sly, o que iremos descobrir na segund metade do filme.
No mais, é se deixar envolver por uma trama de ritmo lento, mas não claudicante, que procura desvendar os meandros do apego de um indivíduo a algo fantasioso, que existe apenas em sua imaginação.

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