1 de set. de 2009

A consciência do fim em "O tempo que resta"

Uma das grandes angústias do ser humano é saber de sua finitude.Desde que nascemos, somo confrontados, de alguma maneira, com aquela que é a única certeza da vida. Imagine quando se sabe quase exatamente quando se vai morrer. É desse tema bastante espinhoso que trata "O tempo que resta".
Dirigido por François Ozon (Amor em cinco tempos), o filme é denso, triste e lindo. O protagonista é Romain (Mevil Poupaud), um celebrado fotógrafo de moda que vê seu mundo se desestabilizar ao descobrir que tem um câncer em estado terminal.A primeira reação apresentada por ele é a negação, já que se recusa a admitir sua condição. A esse sentimento se segue a revolta, que faz com que Romain maltrate todos ao seu
redor, inclusive seu namorado Sacha, com quem decide terminar. Sua rudeza atinge inclusive sua irmã mais nova, numa cena forte, em que ele a destrata e ofende até o sobrinho.
Tentando se acostumar com a ideia de seu fim próximo, Romain se recusa a fazer tratamento contra a doença, já que não se julga capaz de lidar com todas as dores e complicações que vêm com a quimioterapia. Ele, então, procura por sua avó Laura (Jeanne Moreau, em participação afetiva), com quem se abre. Quando ela lhe pergunta porque ele a procurou, Romain diz que, como ele, ela tem pouco tempo de vida. A sequência que mostra a conversa franca entre avó e neto, é simples e emocionante.
O tema da descoberta de uma doença terminal não é novo. Há inúmeros filmes que tratam a esse respeito. Mas há um diferencial em "O tempo que resta": o personagem principal não pensa em uma lista de extravagâncias para fazer antes de morrer. Diferentemente disso, Romain passa a ver a vida de modo mais contemplativo, sem necessariamente se tornar uma pessoa melhor. Ozon exala desilusão com seu longa, e apresenta a pequenez humana diante de uma doença, de um mal que se instala sem aviso prévio.
A cena final, em que Romain está diante do mar, resume bem o contraste entre a natureza e o homem: deitado sobre a areia está o fotógrafo e, à frente dele está o mar, impávido,arrebatador. A tese de que não somos nada diante de tudo que há no mundo é reforçada. De um modo poético,longe de um final no esquema hollywoodiano.

Nenhum comentário: