Dos cineastas contemporâneos, o que apresenta um olhar mais acurado sobre a juventude é Gus Van Sant. Cada trabalho seu é digno de grande atenção, pois em alguma medida o diretor fala do sentimento de tédio que parece assolar os jovens, não só os dos EUA, mas os jovens de qualquer lugar do mundo. Seus filmes parecem retratar realidades universais, o que traduz uma das características mais importantes do cinema: a de romper as barreiras da língua, do tempo, e do lugar.
Em "Paranoid Park", Van Sant volta a exercitar sua câmera na busca por um ângulo de visão aproximado de seu objeto preferido. A narrativa é centrada na figura de um jovem e sua extrema passividade diante da própria vida. Ele é um skatista que está sempre andando pelas ruas com seus amigos em busca de emoções sobre as quatro rodinhas. Pouco se sabe a respeito de seus pais ou de possíveis irmãos, apenas aquilo que o diretor deixa transparecer através dos pensamentos e relações de Alex, o protagonista do filme.
Como já fizera em "Elefante", aqui o cineasta apresenta diferentes perspectivas para uma mesma cena, ainda que sob a ótica de um mesmo personagem. Van Sant também abusa do tempo psicológico, injetando, assim, um realismo intenso a cada sequência. O fato de os atores não serem profissionais é outro fator determinanta para a naturalidade de seus desempenhos. A cada nova produção, o diretor reduz o número de caras conhecidas do público. Dessa vez, por exemplo, o elenco foi escolhido, em sua maioria, pelo My Space.
Outro grande atrativo de "Paranoid Park", que rendeu a Palma de Ouro a Gus Van Sant em Cannes, é sua fotografia. O espectador é deslumbrdo com belíssimas imagens coreografadas, que apresentam um balé no ar proporcionado pelas manobras mirabolantes dos skatistas do lugar que dá título ao filme. Alex, ao ir lá pela primeira vez, fica extasiado diante da audácia dos garotos que vê.
É depois de ir embora dali, porém, que a vida do rapaz dá uma guinada inesperada. Ele se envolve acidentalmente em um assassinato, fato que gera nele uma sensação de culpa. Esse sentimento passa a corroê-lo, de tal forma que ele procura apagar todas as evidências possíveis de seu delito involuntário.
Van Sant pode ser acusado de niilista, mas seu objetivo é justamente capturar o vazio, o que é paradoxal. É como a vida, já que viver é um eterno paradoxo.
No transcorrer da trama, enxuta em seus pouco mais de 90 minutos, seremos confrontados com a apatia e o tédio que dominam a rotina de Alex, o que, de certa forma, incomoda e leva a uma forte reflexão. O que fazemos diante de uma situação que se nos impõe sem aviso prévio e altera o rumo de nossas vidas? A falta de uma reação pode ser uma das respostas. Ou a ausência dela.
14 de set. de 2009
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