26 de set. de 2009

Reencontro com o passado em "Os excêntricos Tenembaums"

Filmes sobre família existem aos montes. Principalmente sobre famílas desajustadas cujos membros tetanm se entender, mas vivem lavando roupa suja. Por isso, um filme que, em sua sinopse, apresenta alguma menção aos termos supra-citados podem ou não ser mera repetição de tema dissociada de talento.
Felizmente, no cinema desta década, temos exemplares do primeiro caso. Diretores como Jonathan Dayton e Valerie Falls, que entregaram ao público "Pequena Miss Sunshine", e Noah Baumbach, que oferece "A lula e a baleia" aos espectadores, fazem crer que é, sim, possível ultrapassar a barreira do óbvio e do convencional,guardadas as devidas proporções em cada um dos filmes citados.

"Os excêntricos Tenembaums" reforça essa lista de filmes sobre família com conteúdo interesante e abordagem idem, que conquista pela conjugação de vários elementos: elenco, trilha sonora, roteiro e direção, principalmente.
A câmera de Wes Anderson (Três é demais) captura a história do clã que dá título ao longa. O enredo nos é apresentado sob a forma de um livro, com direito a um prólogo que situa muito bem o espectador na trama. Os Tenembaums não são uma família comum, como fica evidente nessa introdução. Royal (Gene Hackman), o patriarca e Etheline (Anjelica Houston, num papel perfeito) se casaram e tiveram três filhos: Chas, Margot e Richie. Cada um deles se destacou desde muito pequeno em alguma área. Enquanto Chas e Richie apresentavam um tino incomum para os negócios e o esporte, respectivamente, Margot sempre demonstrou uma extraordinária capacidade para a dramaturgia, escrevendo peças excelentes já nos tempos do colégio. Royal, porém, deixou-os ainda pequenos, cabendo a Etheline todos os cuidados com o trio improvável.

Vinte e dois anos transcorrem e, adultos, os irmãos são vividos por Ben Stiller, Luke Wilson e Gwyneth Paltrow, nessa ordem. Os três mantêm um comportamento e uma maneira de ser estranhas, mas já não conseguiram se firmar fazendo aquilo que sabiam quando crianças. E é nessa condução estranha aos olhos mais habituados a banalidades que reside o charme e o interesse do filme de Anderson. O diretor faz um cinema de comédia, mas nunca voltado para arrancar risadas gratuitas. Como já definiu muito bem um crítico certa vez, ele é um observador contumaz da realidade, e leva para os seus filmes esse olhar tão particular sobre o homem e suas pequenas loucuras. Certamente há alguma partícula de identificação para cada um de nós, ainda que o viés usado seja o o absurdo.
Anderson coleciona sutis digressões sobre a família através dessa história. Voltando a ela, aliás, é depois dessas duas décadas que Royal decide voltar para a mulher e os filhos, forjando, para tal, uma doença terminal. Exatamente quando Etheline está prestes a se casar com um velho conhecido, vivido por Danny Glover. O retorno ao lar não será nada simples, e faz emergir feridas que ainda não cicatrizaram. Aqui, porém, não há espaço para melodrama - sem qualquer tom pejorativo - mas sim para uma sarcástica visão das relações familiares, rendendo momentos memoráveis.
É importante ressaltar que todos os atores rendem mais que a média, e constroem personagens que envolvem e despertam risos sinceros por uma identificação atravessada pela bagagem pessoal de cada espectador. A atmosfera é algo bizarra, e não deixa impassível a quem a assiste. Significa dizer que é um filme para amar ou detestar, pois Anderson não fica no meio termo. Mas é assim mesmo que vale: posicionar-se contra ou a favor de um filme, com uma opinião formada.
O conselho a ser dado é se deixar envolver por essa fábula de esquisitices, ancorada num jeito de encarar a vida com um humor refinado, mostransdo que é possível rir de si mesmo e das aberrações de cada dia. E o filme também é a prova de que se pode sempre dizer a mesma coisa, mas cada vez de um jeito novo.

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