Felizmente, no cinema desta década, temos exemplares do primeiro caso. Diretores como Jonathan Dayton e Valerie Falls, que entregaram ao público "Pequena Miss Sunshine", e Noah Baumbach, que oferece "A lula e a baleia" aos espectadores, fazem crer que é, sim, possível ultrapassar a barreira do óbvio e do convencional,guardadas as devidas proporções em cada um dos filmes citados.

"Os excêntricos Tenembaums" reforça essa lista de filmes sobre família com conteúdo interesante e abordagem idem, que conquista pela conjugação de vários elementos: elenco, trilha sonora, roteiro e direção, principalmente.
A câmera de Wes Anderson (Três é demais) captura a história do clã que dá título ao longa. O enredo nos é apresentado sob a forma de um livro, com direito a um prólogo que situa muito bem o espectador na trama. Os Tenembaums não são uma família comum, como fica evidente nessa introdução. Royal (Gene Hackman), o patriarca e Etheline (Anjelica Houston, num papel perfeito) se casaram e tiveram três filhos: Chas, Margot e Richie. Cada um deles se destacou desde muito pequeno em alguma área. Enquanto Chas e Richie apresentavam um tino incomum para os negócios e o esporte, respectivamente, Margot sempre demonstrou uma extraordinária capacidade para a dramaturgia, escrevendo peças excelentes já nos tempos do colégio. Royal, porém, deixou-os ainda pequenos, cabendo a Etheline todos os cuidados com o trio improvável.
Vinte e dois anos transcorrem e, adultos, os irmãos são vividos por Ben Stiller, Luke Wilson e Gwyneth Paltrow, nessa ordem. Os três mantêm um comportamento e uma maneira de ser estranhas, mas já não conseguiram se firmar fazendo aquilo que sabiam quando crianças. E é nessa condução estranha aos olhos mais habituados a banalidades que reside o charme e o interesse do filme de Anderson. O diretor faz um cinema de comédia, mas nunca voltado para arrancar risadas gratuitas. Como já definiu muito bem um crítico certa vez, ele é um observador contumaz da realidade, e leva para os seus filmes esse olhar tão particular sobre o homem e suas pequenas loucuras. Certamente há alguma partícula de identificação para cada um de nós, ainda que o viés usado seja o o absurdo.
Anderson coleciona sutis digressões sobre a família através dessa história. Voltando a ela, aliás, é depois dessas duas décadas que Royal decide voltar para a mulher e os filhos, forjando, para tal, uma doença terminal. Exatamente quando Etheline está prestes a se casar com um velho conhecido, vivido por Danny Glover. O retorno ao lar não será nada simples, e faz emergir feridas que ainda não cicatrizaram. Aqui, porém, não há espaço para melodrama - sem qualquer tom pejorativo - mas sim para uma sarcástica visão das relações familiares, rendendo momentos memoráveis.
É importante ressaltar que todos os atores rendem mais que a média, e constroem personagens que envolvem e despertam risos sinceros por uma identificação atravessada pela bagagem pessoal de cada espectador. A atmosfera é algo bizarra, e não deixa impassível a quem a assiste. Significa dizer que é um filme para amar ou detestar, pois Anderson não fica no meio termo. Mas é assim mesmo que vale: posicionar-se contra ou a favor de um filme, com uma opinião formada.
O conselho a ser dado é se deixar envolver por essa fábula de esquisitices, ancorada num jeito de encarar a vida com um humor refinado, mostransdo que é possível rir de si mesmo e das aberrações de cada dia. E o filme também é a prova de que se pode sempre dizer a mesma coisa, mas cada vez de um jeito novo.
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