Acompanhar um filme dirigido por Woody Allen é sempre mergulhar em um universo um tanto particular. Não no sentido de inacessível, mas na acepção de mravilhoso. Com um cinema calcado no que há de mais humano em cada um de nós, Allen disseca nossas mazelas interiores com talento inenarrável, ora pelo viés cômico, ora pelo ângulo dramático. Essa dicotomia perpassa toda a sua obra, dotada de uma irregularidade apontada pela crítica. A natureza de "Hannah e suas irmãs" é a segunda, mas o filme pode facilmente oscilar entre os dois grandes grupos de produções do cineasta novaiorquino.
Filmado em 1986, pertence a uma safra um pouco mais antiga de sua extensa filmografia, e conta com um elenco afinadíssimo. O enredo é dos mais simples, mas essa nunca é a questão de maior relevância em seu cinema. Ainda assim, vamos a ele, em linhas gerais: Hannah, a personagem-título, vivida por Mia Farrow (presença constante nos filmes de Allen até o início da década de 90), é uma abnegada mulher que serve de esteio para sua família desestruturada, mas que permanece unida graças aos seus esforços. Cada membro apresenta algum tipo de conflito, fator que gera o desenrolar de fatos de que é feito o filme (ao menos na maioria dos casos...). Suas duas irmãs, vividas por Barbara Hershey e Diane Wiest, não estão satisfeitas com as vidas que levam. Uma delas é alvo da paixão secreta de seu cunhado, que acaba vindo à tona.
Originalidade é algo que os admiradores do cinema de Woody Allen não se preocupam em encontrar. Afinal, o diretor está sempre focando suas lentes no opróbrio sob o qual muitas vezes nós mesmos nos colocamos. Interessa sim, a cada novo filme lançado por ele, ver como se dará a abordagem desse tema crucil. A moral está presente na maioria dos casos, ainda que de maneira discreta no caso de "Hannah e suas irmãs".
É muito fácil se identificar com as histórias contadas por Allen, já que ele trata das neuroses de que todos compartilhamos em alguma medida. Os melhores momentos do filme são proporcionados pelo personagem de Michael Caine, ótimo na pele de um homem que não vê a hora de consumar seu amor pela cunhada. São cenas divertidas e até patéticas, mas com uma veracidade que quase as torna confessionais.
Com mais este exemplar de comédia Allen comprova também que é um tarimbado diretor de atores, extraindo excelentes interpretações de todo o elenco. Não há desempenhos medianos, todos oferecem ótimas composições de seus respectivos personagens.
Vale avisar, ainda, que em "Hannah e suas irmãs" não se vê grandes arroubos visuais ou de paixões em seus personagens. O que cativa, de fato, no filme, é sentir o doce sabor de uma história comum, mas muito bem contada.
24 de set. de 2009
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