Nada como acompanhar uma história bem contada com um enredo instigante. O bom cinema depende bastante desse fatores unidos, assim como se vê em "Retratos de uma obsessão", estreia de Mark Romanek na direção de longas-metragens. Oriundo do mundo dos videoclipes, onde a velocidade da imagem quase sempre é frenética, ele faz em seu primeiro filme um caminho inverso. Aqui, temos imagens pausadas, longos planos-sequências e diálogos lentos, em sua maioria.
O que Romanek está interessado em observar é o poder que a imagem pode exercer sobre um indivíduo, e quais as consequências que isso pode gerar.
Para isso, foca suas lentes na história de Sly Parrish (um Robin Williams sério), que trabalha num pequeno laboratório de revelação de fotos. Ele revela, há anos, as fotos dos Yorkin, uma família que considera perfeita. Tudo indica que essa concepção venha do fato de que as imagens reveladas são sempre de momentos felizes vividos pel família, como aniversários e passeios. Sly crê piamente que existe uma harmonia inquebrável entre os membros, e sente dentro de si um desejo enorme de pertencer àquela família. O tom intimista do filme se manifesta desede o início, e uma prova cabal de que o sentimento dele pelos Yorkin passou da simples admiração é a cena em que aparece uma das paredes da sua casa coberta por fotos dos pais e do filho, os componentes da família.
Mas logo Sly faz uma triste decoberta: Will, o pai, está traindo a esposa com outra mulher. O fato causa uma grande perturbação em Sly, que decide intervir na vida dos familiares, no afã de restaurar um equilíbrio que ele julagava existir, mas que, há muito, já havia sido rompido por uma série de circunstâncias.
É a partir daí que o filme ganha em força dramática, e sua excelência se deve em grande parte à atuação visceral de Robin Williams, que se desvencilha de seus personagens cômicos para dar vida a um homem atormentado e solitário, cuja única referência de felicidade é perdida abruptamente, tirando seu chão. Ele entrega um trabalho diferente do qual nos habituamos a vê-lo fazer nos últimos anos, num papel que representa uma virada em sua carreira.
Outro mérito do filme é sua fotografia em tons esbranquiçados e um tanto monótona, que dá ao espectador a sensação de Sly diante da vida, que é totalmente sem perspectivas. A imagem tem presença determinante em sua vida, já que seu cotidiano é trazer para o papel momentos que as pessoas não querem esquecer nunca. Essa é uma das grandes sacadas do roteiro, que se apoia em um trama simples, narrada pelo próprio Sly, o que iremos descobrir na segund metade do filme.
No mais, é se deixar envolver por uma trama de ritmo lento, mas não claudicante, que procura desvendar os meandros do apego de um indivíduo a algo fantasioso, que existe apenas em sua imaginação.
29 de set. de 2009
26 de set. de 2009
Reencontro com o passado em "Os excêntricos Tenembaums"
Filmes sobre família existem aos montes. Principalmente sobre famílas desajustadas cujos membros tetanm se entender, mas vivem lavando roupa suja. Por isso, um filme que, em sua sinopse, apresenta alguma menção aos termos supra-citados podem ou não ser mera repetição de tema dissociada de talento.
Felizmente, no cinema desta década, temos exemplares do primeiro caso. Diretores como Jonathan Dayton e Valerie Falls, que entregaram ao público "Pequena Miss Sunshine", e Noah Baumbach, que oferece "A lula e a baleia" aos espectadores, fazem crer que é, sim, possível ultrapassar a barreira do óbvio e do convencional,guardadas as devidas proporções em cada um dos filmes citados.
"Os excêntricos Tenembaums" reforça essa lista de filmes sobre família com conteúdo interesante e abordagem idem, que conquista pela conjugação de vários elementos: elenco, trilha sonora, roteiro e direção, principalmente.
A câmera de Wes Anderson (Três é demais) captura a história do clã que dá título ao longa. O enredo nos é apresentado sob a forma de um livro, com direito a um prólogo que situa muito bem o espectador na trama. Os Tenembaums não são uma família comum, como fica evidente nessa introdução. Royal (Gene Hackman), o patriarca e Etheline (Anjelica Houston, num papel perfeito) se casaram e tiveram três filhos: Chas, Margot e Richie. Cada um deles se destacou desde muito pequeno em alguma área. Enquanto Chas e Richie apresentavam um tino incomum para os negócios e o esporte, respectivamente, Margot sempre demonstrou uma extraordinária capacidade para a dramaturgia, escrevendo peças excelentes já nos tempos do colégio. Royal, porém, deixou-os ainda pequenos, cabendo a Etheline todos os cuidados com o trio improvável.
Vinte e dois anos transcorrem e, adultos, os irmãos são vividos por Ben Stiller, Luke Wilson e Gwyneth Paltrow, nessa ordem. Os três mantêm um comportamento e uma maneira de ser estranhas, mas já não conseguiram se firmar fazendo aquilo que sabiam quando crianças. E é nessa condução estranha aos olhos mais habituados a banalidades que reside o charme e o interesse do filme de Anderson. O diretor faz um cinema de comédia, mas nunca voltado para arrancar risadas gratuitas. Como já definiu muito bem um crítico certa vez, ele é um observador contumaz da realidade, e leva para os seus filmes esse olhar tão particular sobre o homem e suas pequenas loucuras. Certamente há alguma partícula de identificação para cada um de nós, ainda que o viés usado seja o o absurdo.
Anderson coleciona sutis digressões sobre a família através dessa história. Voltando a ela, aliás, é depois dessas duas décadas que Royal decide voltar para a mulher e os filhos, forjando, para tal, uma doença terminal. Exatamente quando Etheline está prestes a se casar com um velho conhecido, vivido por Danny Glover. O retorno ao lar não será nada simples, e faz emergir feridas que ainda não cicatrizaram. Aqui, porém, não há espaço para melodrama - sem qualquer tom pejorativo - mas sim para uma sarcástica visão das relações familiares, rendendo momentos memoráveis.
É importante ressaltar que todos os atores rendem mais que a média, e constroem personagens que envolvem e despertam risos sinceros por uma identificação atravessada pela bagagem pessoal de cada espectador. A atmosfera é algo bizarra, e não deixa impassível a quem a assiste. Significa dizer que é um filme para amar ou detestar, pois Anderson não fica no meio termo. Mas é assim mesmo que vale: posicionar-se contra ou a favor de um filme, com uma opinião formada.
O conselho a ser dado é se deixar envolver por essa fábula de esquisitices, ancorada num jeito de encarar a vida com um humor refinado, mostransdo que é possível rir de si mesmo e das aberrações de cada dia. E o filme também é a prova de que se pode sempre dizer a mesma coisa, mas cada vez de um jeito novo.
Felizmente, no cinema desta década, temos exemplares do primeiro caso. Diretores como Jonathan Dayton e Valerie Falls, que entregaram ao público "Pequena Miss Sunshine", e Noah Baumbach, que oferece "A lula e a baleia" aos espectadores, fazem crer que é, sim, possível ultrapassar a barreira do óbvio e do convencional,guardadas as devidas proporções em cada um dos filmes citados.
"Os excêntricos Tenembaums" reforça essa lista de filmes sobre família com conteúdo interesante e abordagem idem, que conquista pela conjugação de vários elementos: elenco, trilha sonora, roteiro e direção, principalmente.
A câmera de Wes Anderson (Três é demais) captura a história do clã que dá título ao longa. O enredo nos é apresentado sob a forma de um livro, com direito a um prólogo que situa muito bem o espectador na trama. Os Tenembaums não são uma família comum, como fica evidente nessa introdução. Royal (Gene Hackman), o patriarca e Etheline (Anjelica Houston, num papel perfeito) se casaram e tiveram três filhos: Chas, Margot e Richie. Cada um deles se destacou desde muito pequeno em alguma área. Enquanto Chas e Richie apresentavam um tino incomum para os negócios e o esporte, respectivamente, Margot sempre demonstrou uma extraordinária capacidade para a dramaturgia, escrevendo peças excelentes já nos tempos do colégio. Royal, porém, deixou-os ainda pequenos, cabendo a Etheline todos os cuidados com o trio improvável.
Vinte e dois anos transcorrem e, adultos, os irmãos são vividos por Ben Stiller, Luke Wilson e Gwyneth Paltrow, nessa ordem. Os três mantêm um comportamento e uma maneira de ser estranhas, mas já não conseguiram se firmar fazendo aquilo que sabiam quando crianças. E é nessa condução estranha aos olhos mais habituados a banalidades que reside o charme e o interesse do filme de Anderson. O diretor faz um cinema de comédia, mas nunca voltado para arrancar risadas gratuitas. Como já definiu muito bem um crítico certa vez, ele é um observador contumaz da realidade, e leva para os seus filmes esse olhar tão particular sobre o homem e suas pequenas loucuras. Certamente há alguma partícula de identificação para cada um de nós, ainda que o viés usado seja o o absurdo.
Anderson coleciona sutis digressões sobre a família através dessa história. Voltando a ela, aliás, é depois dessas duas décadas que Royal decide voltar para a mulher e os filhos, forjando, para tal, uma doença terminal. Exatamente quando Etheline está prestes a se casar com um velho conhecido, vivido por Danny Glover. O retorno ao lar não será nada simples, e faz emergir feridas que ainda não cicatrizaram. Aqui, porém, não há espaço para melodrama - sem qualquer tom pejorativo - mas sim para uma sarcástica visão das relações familiares, rendendo momentos memoráveis.
É importante ressaltar que todos os atores rendem mais que a média, e constroem personagens que envolvem e despertam risos sinceros por uma identificação atravessada pela bagagem pessoal de cada espectador. A atmosfera é algo bizarra, e não deixa impassível a quem a assiste. Significa dizer que é um filme para amar ou detestar, pois Anderson não fica no meio termo. Mas é assim mesmo que vale: posicionar-se contra ou a favor de um filme, com uma opinião formada.
O conselho a ser dado é se deixar envolver por essa fábula de esquisitices, ancorada num jeito de encarar a vida com um humor refinado, mostransdo que é possível rir de si mesmo e das aberrações de cada dia. E o filme também é a prova de que se pode sempre dizer a mesma coisa, mas cada vez de um jeito novo.
24 de set. de 2009
"Hannah e suas irmãs", um filme sobre família
Acompanhar um filme dirigido por Woody Allen é sempre mergulhar em um universo um tanto particular. Não no sentido de inacessível, mas na acepção de mravilhoso. Com um cinema calcado no que há de mais humano em cada um de nós, Allen disseca nossas mazelas interiores com talento inenarrável, ora pelo viés cômico, ora pelo ângulo dramático. Essa dicotomia perpassa toda a sua obra, dotada de uma irregularidade apontada pela crítica. A natureza de "Hannah e suas irmãs" é a segunda, mas o filme pode facilmente oscilar entre os dois grandes grupos de produções do cineasta novaiorquino.
Filmado em 1986, pertence a uma safra um pouco mais antiga de sua extensa filmografia, e conta com um elenco afinadíssimo. O enredo é dos mais simples, mas essa nunca é a questão de maior relevância em seu cinema. Ainda assim, vamos a ele, em linhas gerais: Hannah, a personagem-título, vivida por Mia Farrow (presença constante nos filmes de Allen até o início da década de 90), é uma abnegada mulher que serve de esteio para sua família desestruturada, mas que permanece unida graças aos seus esforços. Cada membro apresenta algum tipo de conflito, fator que gera o desenrolar de fatos de que é feito o filme (ao menos na maioria dos casos...). Suas duas irmãs, vividas por Barbara Hershey e Diane Wiest, não estão satisfeitas com as vidas que levam. Uma delas é alvo da paixão secreta de seu cunhado, que acaba vindo à tona.
Originalidade é algo que os admiradores do cinema de Woody Allen não se preocupam em encontrar. Afinal, o diretor está sempre focando suas lentes no opróbrio sob o qual muitas vezes nós mesmos nos colocamos. Interessa sim, a cada novo filme lançado por ele, ver como se dará a abordagem desse tema crucil. A moral está presente na maioria dos casos, ainda que de maneira discreta no caso de "Hannah e suas irmãs".
É muito fácil se identificar com as histórias contadas por Allen, já que ele trata das neuroses de que todos compartilhamos em alguma medida. Os melhores momentos do filme são proporcionados pelo personagem de Michael Caine, ótimo na pele de um homem que não vê a hora de consumar seu amor pela cunhada. São cenas divertidas e até patéticas, mas com uma veracidade que quase as torna confessionais.
Com mais este exemplar de comédia Allen comprova também que é um tarimbado diretor de atores, extraindo excelentes interpretações de todo o elenco. Não há desempenhos medianos, todos oferecem ótimas composições de seus respectivos personagens.
Vale avisar, ainda, que em "Hannah e suas irmãs" não se vê grandes arroubos visuais ou de paixões em seus personagens. O que cativa, de fato, no filme, é sentir o doce sabor de uma história comum, mas muito bem contada.
Filmado em 1986, pertence a uma safra um pouco mais antiga de sua extensa filmografia, e conta com um elenco afinadíssimo. O enredo é dos mais simples, mas essa nunca é a questão de maior relevância em seu cinema. Ainda assim, vamos a ele, em linhas gerais: Hannah, a personagem-título, vivida por Mia Farrow (presença constante nos filmes de Allen até o início da década de 90), é uma abnegada mulher que serve de esteio para sua família desestruturada, mas que permanece unida graças aos seus esforços. Cada membro apresenta algum tipo de conflito, fator que gera o desenrolar de fatos de que é feito o filme (ao menos na maioria dos casos...). Suas duas irmãs, vividas por Barbara Hershey e Diane Wiest, não estão satisfeitas com as vidas que levam. Uma delas é alvo da paixão secreta de seu cunhado, que acaba vindo à tona.
Originalidade é algo que os admiradores do cinema de Woody Allen não se preocupam em encontrar. Afinal, o diretor está sempre focando suas lentes no opróbrio sob o qual muitas vezes nós mesmos nos colocamos. Interessa sim, a cada novo filme lançado por ele, ver como se dará a abordagem desse tema crucil. A moral está presente na maioria dos casos, ainda que de maneira discreta no caso de "Hannah e suas irmãs".
É muito fácil se identificar com as histórias contadas por Allen, já que ele trata das neuroses de que todos compartilhamos em alguma medida. Os melhores momentos do filme são proporcionados pelo personagem de Michael Caine, ótimo na pele de um homem que não vê a hora de consumar seu amor pela cunhada. São cenas divertidas e até patéticas, mas com uma veracidade que quase as torna confessionais.
Com mais este exemplar de comédia Allen comprova também que é um tarimbado diretor de atores, extraindo excelentes interpretações de todo o elenco. Não há desempenhos medianos, todos oferecem ótimas composições de seus respectivos personagens.
Vale avisar, ainda, que em "Hannah e suas irmãs" não se vê grandes arroubos visuais ou de paixões em seus personagens. O que cativa, de fato, no filme, é sentir o doce sabor de uma história comum, mas muito bem contada.
14 de set. de 2009
"Paranoid Park" ou um olhar sobre o vazio
Dos cineastas contemporâneos, o que apresenta um olhar mais acurado sobre a juventude é Gus Van Sant. Cada trabalho seu é digno de grande atenção, pois em alguma medida o diretor fala do sentimento de tédio que parece assolar os jovens, não só os dos EUA, mas os jovens de qualquer lugar do mundo. Seus filmes parecem retratar realidades universais, o que traduz uma das características mais importantes do cinema: a de romper as barreiras da língua, do tempo, e do lugar.
Em "Paranoid Park", Van Sant volta a exercitar sua câmera na busca por um ângulo de visão aproximado de seu objeto preferido. A narrativa é centrada na figura de um jovem e sua extrema passividade diante da própria vida. Ele é um skatista que está sempre andando pelas ruas com seus amigos em busca de emoções sobre as quatro rodinhas. Pouco se sabe a respeito de seus pais ou de possíveis irmãos, apenas aquilo que o diretor deixa transparecer através dos pensamentos e relações de Alex, o protagonista do filme.
Como já fizera em "Elefante", aqui o cineasta apresenta diferentes perspectivas para uma mesma cena, ainda que sob a ótica de um mesmo personagem. Van Sant também abusa do tempo psicológico, injetando, assim, um realismo intenso a cada sequência. O fato de os atores não serem profissionais é outro fator determinanta para a naturalidade de seus desempenhos. A cada nova produção, o diretor reduz o número de caras conhecidas do público. Dessa vez, por exemplo, o elenco foi escolhido, em sua maioria, pelo My Space.
Outro grande atrativo de "Paranoid Park", que rendeu a Palma de Ouro a Gus Van Sant em Cannes, é sua fotografia. O espectador é deslumbrdo com belíssimas imagens coreografadas, que apresentam um balé no ar proporcionado pelas manobras mirabolantes dos skatistas do lugar que dá título ao filme. Alex, ao ir lá pela primeira vez, fica extasiado diante da audácia dos garotos que vê.
É depois de ir embora dali, porém, que a vida do rapaz dá uma guinada inesperada. Ele se envolve acidentalmente em um assassinato, fato que gera nele uma sensação de culpa. Esse sentimento passa a corroê-lo, de tal forma que ele procura apagar todas as evidências possíveis de seu delito involuntário.
Van Sant pode ser acusado de niilista, mas seu objetivo é justamente capturar o vazio, o que é paradoxal. É como a vida, já que viver é um eterno paradoxo.
No transcorrer da trama, enxuta em seus pouco mais de 90 minutos, seremos confrontados com a apatia e o tédio que dominam a rotina de Alex, o que, de certa forma, incomoda e leva a uma forte reflexão. O que fazemos diante de uma situação que se nos impõe sem aviso prévio e altera o rumo de nossas vidas? A falta de uma reação pode ser uma das respostas. Ou a ausência dela.
Em "Paranoid Park", Van Sant volta a exercitar sua câmera na busca por um ângulo de visão aproximado de seu objeto preferido. A narrativa é centrada na figura de um jovem e sua extrema passividade diante da própria vida. Ele é um skatista que está sempre andando pelas ruas com seus amigos em busca de emoções sobre as quatro rodinhas. Pouco se sabe a respeito de seus pais ou de possíveis irmãos, apenas aquilo que o diretor deixa transparecer através dos pensamentos e relações de Alex, o protagonista do filme.
Como já fizera em "Elefante", aqui o cineasta apresenta diferentes perspectivas para uma mesma cena, ainda que sob a ótica de um mesmo personagem. Van Sant também abusa do tempo psicológico, injetando, assim, um realismo intenso a cada sequência. O fato de os atores não serem profissionais é outro fator determinanta para a naturalidade de seus desempenhos. A cada nova produção, o diretor reduz o número de caras conhecidas do público. Dessa vez, por exemplo, o elenco foi escolhido, em sua maioria, pelo My Space.
Outro grande atrativo de "Paranoid Park", que rendeu a Palma de Ouro a Gus Van Sant em Cannes, é sua fotografia. O espectador é deslumbrdo com belíssimas imagens coreografadas, que apresentam um balé no ar proporcionado pelas manobras mirabolantes dos skatistas do lugar que dá título ao filme. Alex, ao ir lá pela primeira vez, fica extasiado diante da audácia dos garotos que vê.
É depois de ir embora dali, porém, que a vida do rapaz dá uma guinada inesperada. Ele se envolve acidentalmente em um assassinato, fato que gera nele uma sensação de culpa. Esse sentimento passa a corroê-lo, de tal forma que ele procura apagar todas as evidências possíveis de seu delito involuntário.
Van Sant pode ser acusado de niilista, mas seu objetivo é justamente capturar o vazio, o que é paradoxal. É como a vida, já que viver é um eterno paradoxo.
No transcorrer da trama, enxuta em seus pouco mais de 90 minutos, seremos confrontados com a apatia e o tédio que dominam a rotina de Alex, o que, de certa forma, incomoda e leva a uma forte reflexão. O que fazemos diante de uma situação que se nos impõe sem aviso prévio e altera o rumo de nossas vidas? A falta de uma reação pode ser uma das respostas. Ou a ausência dela.
1 de set. de 2009
A consciência do fim em "O tempo que resta"
Uma das grandes angústias do ser humano é saber de sua finitude.Desde que nascemos, somo confrontados, de alguma maneira, com aquela que é a única certeza da vida. Imagine quando se sabe quase exatamente quando se vai morrer. É desse tema bastante espinhoso que trata "O tempo que resta".
Dirigido por François Ozon (Amor em cinco tempos), o filme é denso, triste e lindo. O protagonista é Romain (Mevil Poupaud), um celebrado fotógrafo de moda que vê seu mundo se desestabilizar ao descobrir que tem um câncer em estado terminal.A primeira reação apresentada por ele é a negação, já que se recusa a admitir sua condição. A esse sentimento se segue a revolta, que faz com que Romain maltrate todos ao seu
redor, inclusive seu namorado Sacha, com quem decide terminar. Sua rudeza atinge inclusive sua irmã mais nova, numa cena forte, em que ele a destrata e ofende até o sobrinho.
Tentando se acostumar com a ideia de seu fim próximo, Romain se recusa a fazer tratamento contra a doença, já que não se julga capaz de lidar com todas as dores e complicações que vêm com a quimioterapia. Ele, então, procura por sua avó Laura (Jeanne Moreau, em participação afetiva), com quem se abre. Quando ela lhe pergunta porque ele a procurou, Romain diz que, como ele, ela tem pouco tempo de vida. A sequência que mostra a conversa franca entre avó e neto, é simples e emocionante.
O tema da descoberta de uma doença terminal não é novo. Há inúmeros filmes que tratam a esse respeito. Mas há um diferencial em "O tempo que resta": o personagem principal não pensa em uma lista de extravagâncias para fazer antes de morrer. Diferentemente disso, Romain passa a ver a vida de modo mais contemplativo, sem necessariamente se tornar uma pessoa melhor. Ozon exala desilusão com seu longa, e apresenta a pequenez humana diante de uma doença, de um mal que se instala sem aviso prévio.
A cena final, em que Romain está diante do mar, resume bem o contraste entre a natureza e o homem: deitado sobre a areia está o fotógrafo e, à frente dele está o mar, impávido,arrebatador. A tese de que não somos nada diante de tudo que há no mundo é reforçada. De um modo poético,longe de um final no esquema hollywoodiano.
Dirigido por François Ozon (Amor em cinco tempos), o filme é denso, triste e lindo. O protagonista é Romain (Mevil Poupaud), um celebrado fotógrafo de moda que vê seu mundo se desestabilizar ao descobrir que tem um câncer em estado terminal.A primeira reação apresentada por ele é a negação, já que se recusa a admitir sua condição. A esse sentimento se segue a revolta, que faz com que Romain maltrate todos ao seu
redor, inclusive seu namorado Sacha, com quem decide terminar. Sua rudeza atinge inclusive sua irmã mais nova, numa cena forte, em que ele a destrata e ofende até o sobrinho.
Tentando se acostumar com a ideia de seu fim próximo, Romain se recusa a fazer tratamento contra a doença, já que não se julga capaz de lidar com todas as dores e complicações que vêm com a quimioterapia. Ele, então, procura por sua avó Laura (Jeanne Moreau, em participação afetiva), com quem se abre. Quando ela lhe pergunta porque ele a procurou, Romain diz que, como ele, ela tem pouco tempo de vida. A sequência que mostra a conversa franca entre avó e neto, é simples e emocionante.
O tema da descoberta de uma doença terminal não é novo. Há inúmeros filmes que tratam a esse respeito. Mas há um diferencial em "O tempo que resta": o personagem principal não pensa em uma lista de extravagâncias para fazer antes de morrer. Diferentemente disso, Romain passa a ver a vida de modo mais contemplativo, sem necessariamente se tornar uma pessoa melhor. Ozon exala desilusão com seu longa, e apresenta a pequenez humana diante de uma doença, de um mal que se instala sem aviso prévio.
A cena final, em que Romain está diante do mar, resume bem o contraste entre a natureza e o homem: deitado sobre a areia está o fotógrafo e, à frente dele está o mar, impávido,arrebatador. A tese de que não somos nada diante de tudo que há no mundo é reforçada. De um modo poético,longe de um final no esquema hollywoodiano.
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