9 de ago. de 2009

"A rosa púrpura do Cairo", uma declaração de amor ao cinema

Woody Allen adora se utilizar da metalinguagem, nas mais diferentes formas. Seja falando do universo dos ricos e famosos (Celebridades), seja desnudando as agruras existenciais de um diretor (Desconstruindo Harry), seja mostrando o mundo da magia (Scoop - O grade furo). De tempos em tempos, o cineasta se volta para esse profícuo terreno.
"A rosa púrpura do Cairo" talvez seja um dos exemplos mais felizes de incursão nesse ambiente. O próprio Allen já declarou que é o seu filme favorito.
Aqui, ele narra a história de uma simpática garçonete apaixonada por cinema. Quase todos dos dias, ela vai à sala escura de sua pequena cidade e se delicia com o que estiver em cartaz. Essas idas ao cinema são como escapadas que ela dá do mundo real. Uma espécie de refrigério em meio à realidade triste que ela vive. Seu marido (Danny Aiello) é um bronco que vive de explorá-la, o que a torna ainda mais desiludida.
Depois de ver e rever um filme chamado "A rosa púrpura do Cairo", ela testemunha o que parecia impossível: o ator principal, cujas falas ela já havia decorado, sai da tela, e passa a viver na realidade. O romance entre os dois é quase inevitável.
Desde o início, o filme é uma declaração apaixonada ao cinema, conduzida com simplicidade e genialidade. Estão lá algumas marcas de sua direção: diálogos ágeis, trama divertida sem abrir mão da inteligência, algumas neuroses dos personagens principais.
Não é preciso muito para que um filme se torne inesquecível, e "A rosa púrpura do Cairo" consegue o feito com poucos elementos. A sucessão de fatos engraçados que se dá após a saída do protagonista do filme é um dos achados do longa. Jeff Daniels se sai muito bem na pele do personagem, e também do ator que interpreta o personagem. O ator consegue imprimir uma marca diferente a cada um dos tipos, o que resulta numa interpretação de primeira.
Apesar da ausência de Allen na frente das câmeras, Mia Farrow segura muito bem o interesse por sua protagonista, e está no limite exato entre a doçura e a ingenuidade.
Esse é daqueles filmes que conquistam o espectador à primeira cena, por sua atmosfera de lirismo e encantamento. Da extensa galeria alleniana, é um dos que mais merecem ser visto e revisto. Trata-se de um convite à fantasia impossível de se recusar.

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