15 de ago. de 2009

"Pequena Miss Sunshine" ou a saga de um clã disfuncional

Um dos maiores achados dos últimos anos no cenário independente é, sem sombra de dúvida, "Pequena Miss Sunshine". O filme marca a estreia na direção do casal Jonathan Dayton e Valerie Falls. Estreia alvissareira, diga-se de passagem.
Nada como acompanhar uma história muito bem contada, com sabor de alegria e uma dose de lágrimas de comoção. Unindo esse dois polos aparentemente antagônicos, a dupla de diretores exibe um conto para toda a família, capaz de gerar identificação com algum dos tipos apresentados.
O clã retratado no filme está longe de representar o que o mundo ocidental conhece como o modo de vida "americano" (prefiro o termo estadunidense). Na verdade, eles são extamente o oposto desse modelo tão propagado por toda a parte.
Cada membro da fampília exibe algum tipo de disfuncionalidade. O patriarca é Edwin, vivido por um inspirado Alan Arkin, viciado em heroína e emissor de frases com alto teor de sarcasmo. Ele está ensaiando sua neta, a pequena Olive (Abigal Breslin) para um concurso de beleza infantil, que dá título ao filme. Os passos da coreografia são um segredo compartilhado pelos dois, o que gera uma certa preocupação nos pais da garota.
Richard (Greg Kinnear) é o pai, autor de um método de auto-ajuda que garante o sucesso em apenas alguns passos. Mas a única coisa que ele consegue com isso é o fracasso.
Seu filho mais velho, Dwayne (Paul Dano, ótimo), fez voto de silêncio, que durará até que ele se torne piloto, seu sonho de vida.
Para completar o festival de pequenas "bizarrices", o irmão de Sheryl (Toni Collette), a mãe, acaba de tentar o suicídio, depois de ter sido abandonado pelo namorado, que preferiu um outro homem mais especialista em Proust do que ele. O tio em questão é vivido pelo excelente Steve Carrel, que dá dignidade ao personagem, um dos primeiros interpretados por ele depois do estouro de "O virgem de 40 anos".
Com momentos oscilantes entre drama e humor, o filme exibe uma galeria de tipos carismáticos, que conquista desde o início o espectador. É difícil ficar indiferente à viagem que os familiares fazem em uma velha Kombi amarela para chegar ao local do concurso do qual Olive tanto sonha participar. Com sua doçura, a menina consegue fazer com que todos comprem seu desejo de vencer a competição e, no caminho, verdades virão à tona e um triste acontecimento marcará a família.
Recheado de passagens marcantes "Pequena Miss Sunshine" merece ser visto e revisto. O filme arrebatou o público desde sua primeira exibição, no festival de Sundance, reduto do cinema independente. No Oscar 2007, também se saiu muito bem, levando as estatuetas de melhor ator coadjuvante para Arkin e melhor roteiro original. Merecia muito mais.
Merece destaque o momento em que Dwayne descobre que não poderá ser piloto, e Olive, sem dizer uma única palavra, consegue convencer o irmão a seguir na viagem com todos. E também a louca coreografia apresentada pela menina quando concorre ao prêmio. A maneira como ela arrasta os pais, o tio e o irmão para acompanhá-las num ritmo um tanto inapropriado para sua idade.
E é assim, entre risos e lágrimas, que "Pequena Miss Sunshine" vai direto no coração, e ensina de maneira simples uma lição valiosa: família é sempre família, seja aqui, seja numa tribo remota de um lugarejo na África. O importante é saber conviver com aqueles que não escolheu.



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