6 de dez. de 2009

Romantismo e fugacidade em "Todos dizem eu te amo"

A instabilidade dos sentimentos é o grande tema de "Todos dizem eu te amo", vigésimo sexto filme da carreira de Woody Allen. Cineasta dos mais produtivos, seu ritmo atual de produção, um filme por ano, começou ainda nos anos 80. De lá para cá, sua obra tem tido, segundo a crítica especializada, momentos de plena inspiração e instantes de certa debilidade criativa.

Mas para fãs essa divisão faz pouco sentido, visto que, a exemplo de outros filmes, "Todos dizem eu te amo" versa sobre temas corriqueiros para qualquer mortal. Estão lá os arrepios típicos da paixão, as besteiras que todos fazemos diante da
pessoa amada unicamente com o intuito de impressioná-la, e a incerteza em relação a uma vida inteira ao lado de uma pessoa. Pode ser que, em alguns casos, Allen não tenha sido muito feliz na captação desses assuntos em seus filmes, mas é sempre uma delícia acompanhar a trajetória de seus tipos desajustados, loucos adoráveis.
Num filme que fala escancaradamente de amor como esse, não poderiam ficar de fora cidades tão românticas como Paris e Veneza. E elas aparecem, com tal força que podem ser consideradas personagens da narrativa. A presença de ambas é luminosa, principalmente Paris, que serve de cenário para uma dança entre os personagens de Allen e Goldie Hawn.

"Todos dizem eu te amo" conta, de maneira musicada, as histórias de amor de uma família tipicamente novaiorquina (mais alleniano, impossível). Cada membro do clã dos quais Joe (Allen) e Steffi (Hawn) são patriarcas vive, à sua maneira, uma paixão. Como Skylar (Drew Barrymore), que está encantada por Holden (Edward Norton), com quem vai se casar logo. E também as irmãs Laura (Natalie Portman, ainda adolescente) e Lane (Gaby Hoffman), que estão experimentando o sentimento pela
primeira vez. Há vários outros personagens que transitam pela história ao longo de seu transcorrer, e citar todos seria como transcrever uma lista telefônica.
Cada um deles, ao se juntar, forma um coro divertido de canções, que servem de elemento de ligação entre as subtramas do filme. Aliás, ele pode ser apreciado como um musical desengonçado sobre as armadilhas do amor, e também sobre suas consequências, ora cômicas, ora dramáticas. Os personagens têm todos uma aura cativante, e são muitos os destaques em todo o longa. Julia Roberts, por exemplo,

está perfeita como uma mulher inconstante que deseja uma aventura para sair da mesmice do seu casamento, mas que, depois, percebe que precisa da rotina de antes. O avô da família também é outro achado, com suas atitudes insólitas, que enlouquecem a todos, principalmente a empregada. Há, ainda, espaço para discussões entre pai e filho por causa de diferenças de opinião política, e é essa uma das passagens em que o humor arguto de Allen entra em ação, questionando a validade do comunismo ou do capitalismo.
No geral, o filme tem um roteiro bastante inspirado, e entretém do início ao fim com suas piadas inteligentes e suas locações charmosas. Desde os primeiros minutos, o espectador é seduzido por cenas divertidas e situações inesperadas que podem surgir para os amantes. Como na sequência em que Holden vai a uma joalheria comprar um anel de noivado para Skylar, e se vê sem muitas escolhas por causa do alto preço das joias. Quando, enfim, escolhe uma, começa a cantar e dançar junto com os clientes do lugar, comemoranro seu casamento vindouro. Até mesmo fantasmas camaradas entram em cena. Assim, o público vai acompanhando com atenção e curiosidade o desenrolar das ações. Definindo em poucas palavras, pode-se dizer que é um filme recomendado para quem ama amar.

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